<<eu queria falar sobre o fundo do rio.
queria gargalhar e gritar sobre as coisas do fundo do rio. queria sapatear no fundo do rio e arrancar de lá paus, pedras e fins de caminhos.
eu precisava saber do fundo do rio com a mesma intensidade com que o fundo do rio não precisa saber de nada.
éramos, fundo do rio e eu, dois silêncios de correntezas, duas securas de águas transbordantes, duas possibilidades esgotadas.
éramos, eu e fundo do rio, a rotina do lodo, da lama e de uma beleza encravada no avesso, que ninguém nunca não vê.>>
O que há no fundo do rio? O que repousa nas camadas submersas da memória, das perdas, dos deslocamentos? Em O que tem no fundo do rio – crônicas fora de casa (Urutau), Adriana Sydor convida quem lê a mergulhar em um universo de crônicas que oscilam entre o lirismo e a dureza da realidade. São textos que partem da vivência pessoal, mas que encontram eco na experiência de todos nós.
A escrita de Sydor é marcada por uma prosa sensorial, que tateia a solidão, o deslocamento e as pequenas epifanias do cotidiano. Em sua narrativa, há o peso da mudança – de casa, de país, de fase da vida –, mas também o alumbramento diante dos detalhes mais sutis. O tempo e a memória são temas recorrentes, assim como a relação entre palavra e identidade, o ato de escrever como forma de sobrevivência e reinvenção.
As crônicas do livro transbordam poesia e inquietação. Do trauma de se sentir deslocada em terras estrangeiras à delicadeza de observar as cores do outono ou o movimento de uma árvore que se recusa ao toque, Adriana constrói um mosaico de imagens que nos convidam a olhar para o que está por baixo da superfície – do rio, da escrita, da existência.
Com uma linguagem que passeia entre a introspecção e a ironia, entre a densidade emocional e a leveza do cotidiano, O que tem no fundo do rio é um convite para quem busca uma literatura que não apenas narra, mas também sente e nos faz sentir.
J. Mamoré
Vendas no Brasil e Europa pela Editora Urutau.