sinto uma calma exuberante quando me sento na varanda e olho as plantas.
são doze vasos de tamanhos variados e lutas diferentes em cada um.
metade deles estão juntos, concentrados, vivendo como se fossem um bairro com casas construídas com arquiteturas independentes.
os outros se espalham convenientemente preenchendo vazios.
quando viajei, o pacová morava na sala e a ora-pro-nóbis era uma pequena árvore espinhenta que atrapalhava um pouco o balanço da rede.
agora, o pacová imenso ocupa um canto da varanda e a ora-pro-nóbis inicia, discreta, sua nova vida, sua segunda chance depois de ter sido podada para a recuperação de uma doença – ela tem um tronco grosso e galhos finos nascendo desproporcionais, como as árvores que são aparadas na rua.
a minha vida é melhor por causa desse espaço.
todos os dias tomo café da manhã na varanda. recomeço nesse falso jardim, como quem respira hectares e mais hectares. eu gosto do silêncio da rua, do ar fresco, das cores do céu às 6 da manhã.
gosto mais porque inventei esse cenário que acolhe, saúda e disfarça os engasgos do centro.
um dia desses, várias borboletas chegaram por aqui. encantada com aquele milagre branquinho, dei licença. concedendo a preferência do espaço para quem tem mais intimidade de troca com as plantas, saí devagar.
no dicionário descobri que o coletivo de borboletas é panapaná, palavra de origem tupi, identificada por quem é urbano e aprisiona plantas em vasos para o próprio prazer em 1587 – e em 2025.
