3 X 2

 
O quartinho dos fundos virou meu santuário. Trago tudo pra cá, me tranco com a porta aberta e vivo.
No começo, queria que as coisas fossem acontecendo devagar por aqui: primeiro a escrivaninha, onde meu filho aprendeu as primeiras letras, e com ela decidiria o que viria depois, o que nos faria companhia e comporia o lugar do tão sagrado trabalho.
Mas rapidinho chegaram papeis, lápis coloridos, cadernos, canetinhas, tesouras, envelopes e todos os tipos de parafernálias para fazer coisas se instalaram por aqui e acharam os próprios lugares.
Alguns livros pularam da estante e se estabeleceram em lugar de pouca vista, mas de muita utilidade. CDs exibidos invejaram e também rolaram pra cá, com eles o rádio. Com o rádio, o HD de música. E já que a música se fez, o ritmo foi galopante e sem que eu percebesse, o que era pra ser uma construção demorada como uma terça-feira, se transformou numa empilhação de coisas sem fim.
Consegui impedir as paredes de serem forradas, porque tenho vontades específicas de alguns quadros. De resto, os objetos foram se espalhando, seguindo as próprias pernas.
Dia desses foi colocado um tapete. A Lu disse que era coisa de inverno, fica mais quentinho pra você, Adri. O cão gosta de ficar deitado, ouvindo o batuque das teclas e a musiquinha. Aceito, porque já não discuto mais com objeto ou bicho que queira fazer parte desse cotidiano.
E daqui, onde tudo tem vida e vontade própria, onde me começo e me termino, onde trabalho e espio o mundo, onde falo e ouço, bem daqui, terminei os planos das próximas férias. 
Com medo que o quartinho me siga, despisto.
 
 

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