a fúria dos leões

dia desses me perguntaram por que cargas d´água eu não usava o espaço que me é destinado na revista Ideias para descer a lenha em coisas ruins que pipocam em nossa música todos os dias, todas as horas, todos os minutos.
não gosto de perder tempo e energia com coisa ruim. minha resposta é simples, direta e sincera. mas não convence. parece que há uma necessidade constante de perturbação, de intriga, de opinião controversa. até entendo que o conflito faz parte do humano e que há certa excitação em embates e quetais. também sei que visão crítica é coisa pra lá de importante e necessária e suas vozes igualmente.
mas acho que a vida já é cheia de penas o suficiente, não preciso tratar de alimentá-las. além do quê, o espaço e tempo que ocupo para tratar do que é bacana seria trocado pelo desgastante esforço de estar rodeada de coisa chata. espano com desprezo coisa chata.
a pensar nisso, me vem imediatamente à cabeça um tipo específico de pessoa. aquela que tem o prazer de farejar falhas, de apontar o dedo, de comemorar lapsos alheios. o dono do olho ruim e da total falta de sensibilidade para o belo. um misto de dor de cotovelo, de recalque, de insegurança com pitadas de improbidade.

conheci uma dona lá em Cascadura assim. elogio sorridente e discreto ao vestido da amiga seguido pelos olhos em fogo com apontamento da costura torta naqueles dois centímetros da barra direita; comentário sobre a comemoração da casa nova da cunhada e em seguida a observação prava sobre a cor das paredes ou o tamanho das janelas.
o defeito, o que é desagradável, o que não está de acordo com a moral da ordem reinante, das estéticas do mundo sempre lhe têm mais importância e são motivos de comemorações e falações – fios de alegria em vida miserável.
há prazer em apontar, em denunciar. mas existe nessa atitude e comportamento uma coisa pior que esse rancor que quase inspira compaixão: a tentativa de mostrar perspicácia, atenção, inteligência, apuro no olhar; a tentativa de tentar ser o que não é.
eu vejo diferenças gritantes entre o olhar crítico e o mesquinho desejo de se sobrepor ao outro.  
gosto de reparar em tudo e formar opinião própria sobre as coisas. gosto também de saber de erros e acertos. o que não me desse é esse tipo que vai logo, com entusiasmo e apetite, jogando pedras nas vitrines…
prefiro continuar firme no meu empenho em dar preferência ao que é bom. e por falar nisso, ouve aí, maravilha de música, Noel Rosa.
 
 
Mas que mulher indigesta!(Indigesta!)
Merece um tijolo na testa

Essa mulher não namora
Também não deixa mais ninguém namorar
É um bom center-half pra marcar
Pois não deixa a linha chutar

E quando se manifesta
O que merece é entrar no açoite
Ela é mais indigesta do que prato
De salada de pepino à meia-noite

Essa mulher é ladina
Toma dinheiro, é até chantagista
Arrancou-me três dentes de platina
E foi logo vender no dentista

 

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