a última faxina do ano

acordei cedo para tratar da limpeza da casa. entre vassoura, aspirador e espanador, repeti um milhão de vezes o mantra de como odeio ter que fazer faxina.
pensei naquelas casas do futuro, em que tudo é branquinho e brilhante, sem um fiapo no chão, coisa meio parecida com um Apple, sei lá. acho que as casas do futuro serão limpas por um scanner. um processo mega inteligente, cheio de raios vermelhos e azuis que a cada três minutos fazem varredura em todos os ambientes.
me imaginei sentada, a ler o jornal e tomar café da manhã. um farelo no chão? zas-tras, o raio passa e a superfície volta ao seu aspecto de espelho imaculado.
tudo bem, antes que isso aconteça, há muito chão por aqui e muita roupa e muita louça e muitos vidros e muito tudo.
a vida doméstica não é para fracos.
eu sou fraca. 
estou na temporada de total adinamia para esses assuntos. tenho preguiça e fico de mau humor. pior, a tarefa entra num círculo maluco. espiral de terror: não basta tirar o pó da cômoda, ao abrir a primeira gaveta é notória a necessidade de limpá-la. e já que a primeira gaveta foi organizada não é certo deixar as outras naufragando em bagunça; e o guarda-roupa? decerto é menos importante que a cômoda? claro que não!, precisa também de cuidados especiais. e já que arrumei o guarda-roupa seria pedir muito um olhar de carinho para as quinquilharias da estante?
e assim vai… um percurso infinito que não acaba e desdenha do meu tempo, como se eu dormisse agarrada a um oito deitado.
como tenho mais o que fazer da vida e minha cabeça tem a incrível capacidade de conversar com meu corpo, a solução chegou sem que eu tivesse que puxar espada e declarar independência: mãos cortadas, empipocadas, ressecadas pelo contato com os detergentes.

ufa! é hora de parar. com toda a dignidade de quem tentou até as últimas forças.  
 
 

quer comentar? não se acanhe.

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