dialética

para Francisco Mallmann

não ficar à deriva
mesmo quando não há direção,
inventar que sabe para onde está indo
e talvez até dizer para alguém
ei, venha comigo.

experimentar palavras diferentes
para as normalidades dos dias
e chamar de ventos, velas, naus
o destino escolhido de cada um
e talvez até ter coragem de
pronunciar a palavra navegador
ou timoneiro
mais, ter coragem de falar
em voz alta e dentro de uma frase
a palavra marujo.

não esquecer que vêm do mar
as melhores metáforas
e todos os poetas do mundo
já fizeram isso.
procurar evitar o mar no enredo dos textos
e deixar de usar a palavra onda
mesmo se for gíria.

esquecer de escrever,
se recusar a escrever,
negar a escrita
e mesmo assim continuar dentro da palavra
e talvez até descobrir os significados
de alguns silêncios,
nomea-los, nunca usá-los
e um dia pensar:
eu inventei uma palavra
para depois esquecê-la para sempre.

quer comentar? não se acanhe.

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