distrações

revirei cidade, essa e outras, atrás de um carrinho de feira. meu objetivo era claro e simples: não forçar braços, coluna e pernas com as compras feitas sem presença de ajudante ou carro. 
depois de muitas voltas, cheguei ao modelo que, por suposição, observação e leitura, poderia me auxiliar em tão corriqueira tarefa. tipo dobrável, com rodinhas, que sem posição de uso fica do tamanho de uma 007 e com estampa petit-pois brancas na imensidão azul. 
satisfação! 

liquidada a compra, como quase sempre acaba acontecendo, fez-se a demora pela oportunidade do uso. antes, a todo momento meu corpo reclamava pelo objeto; uma vez comigo, rareou-se a utilidade.

hoje, domingo de sol, domingo de feira, domingo de compras, pulei da cama, fiz coque no cabelo ainda embaraçado de sono, me meti em vestidinho laranja para lembrar de prazeres de outras terras e marchei. 
a orgia da feira é um dos prazeres que mais me eleva: todos os gostos, os cheiros, os sabores, as vozes – quando estou na feira sempre penso no Aleph que Borges viu no porão de Carlos Argentino…

e fui me abastecendo de tudo que fazia graça aos sentidos: pêra, uva, maçã, salada mista; rondeli, costelinha defumada, queijo; batata, cenoura, alface. 
para comer pastel, ponto máximo do meu passeio, pedi para que o rapaz da banca guardasse minhas compras. gentil, esticou os braços, agarrou sacolas, sentiu o peso e me sugeriu: “você precisa de um carrinho de feira”. foi aí que lembrei. percorri em pensamento a distância até minha casa e vi o carrinho deitado, dormindo, sem estreia, num cantinho da área de serviço. que burra!

sentei na mureta e lamentei a falta do hábito do veículo. por sorte e descuido, o laranja que queimava a visão me fez comer pastel acompanhada da minha amiga holandesa. e mais, me fez comprar mais um, mais dois pasteis para que pudesse dividir tal prazer com minha artista favorita que, de sua janela, no décimo sexto, acompanhava tudo com sorriso fácil. 

na feira, até o que dá errado acaba se inclinando pro lado bom…

quer comentar? não se acanhe.

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