do amor que não se repete – e se repete sempre.

Eu tive muitas mães na minha infância. Uma rua inteirinha de mães que me chamavam pelo nome, pelo apelido, pelo sobrenome, pelo nome dos meus irmãos, dos meus colegas, me chamavam por a filha da Reny, a filha do Paulo.
As mães da minha infância eram minhas e de toda a rua. Brincávamos livres: bola, bicicleta, rolimã, bets, conversinhas, esconde-esconde. E todos obedecíamos em uníssono ao toque de recolher da primeira que chegava à janela e anunciava o relógio, o fim da zoeira. Desmontávamos cenários, carregávamos objetos e seguíamos… cada um para a própria casa, a obedecer a própria mãe que tinha ordem igual a qualquer outra: banho, jantar, dentes e cama.  
O nosso respeito era igualzinho para todas. Cada uma tinha total autoridade sobre nós. As ordens pareciam vassouras gigantes que empurravam toda gurizada de um único jeito. Fomos, na rua da minha infância, todos criados iguais. E quando um assunto grave era denunciado, uma perna quebrada no futebol, um bêbado rondando a rua, um vidro estilhaçado por bola, as mães logo se reuniam para discutir providências e anunciar nosso novo modus operandi.
Cresci. Crescemos. Cada um buscou a própria vida.
Hoje sou mãe de um casal. E tenho muitos outros filhos e filhas. Não há mais brincadeira na rua, mas nas primeiras horas do meu mais velho, eu e todas as mães organizávamos a bagunça no condomínio e cabia a cada uma de nós, e a todas, zelar pelo bem estar da turminha. As preocupações maternas se estendiam por todos aqueles que tinham altura parecida com a do Dé. Quanta preocupação com todos eles…
As amigas da Lívia viraram minhas filhas e sempre estou a pensar nelas também, no presente, no futuro, a desejar que a vida lhes seja boa e a tratar de conselhos e falas quando necessário.
Melhor é saber que os meus filhos também tiveram e têm muitas mães. O Dé já tem idade suficiente para não precisar dessas batutas, mas a Lívia ainda dança conforme nossa música. E hoje, quando preciso de cuidado especial, fora do meu controle, passo a mão no telefone e converso com a mãe substituta a entregar a cria com a certeza dos mesmos cuidados.
Mãe só tem uma e todas são iguais e são mães de todos…


quer comentar? não se acanhe.

Pin It on Pinterest