na rede

problemas com meu computador. 


há tempo ele não é mais o mesmo. mas temos um caso antigo, amor de muitas conexões, somos parceiros de dados e inventamos juntos um mundo só nosso. por isso insisti tanto. 
mas o desgaste é geral e não consigo mais chegar perto sem querer arremessá-lo na parede. pobre branquinho, tchau companheirinho.

enquanto o novo não chega, tenho me virado com outros aparelhos. mas não é tarefa fácil usar iPad ou iPhone para trabalhar. quando o lance é só difícil, supero; quando é impossível, tomo providências.
foi o que aconteceu hoje. para dar conta de umas questões fui à lan house. 
achei que esse tipo de lugar já nem existisse mais, tivesse virado um cometa duma época em que todo mundo queria, mas nem sempre podia, ter computador, internet, etc. hoje, como qualquer telefone proporciona muita coisa, não me parece um bom negócio ter casa assim. enfim, há lan house, há clientes, há desesperados como eu que precisam de máquina alheia.

puxei material da bolsa, coloquei os óculos, dei boa tarde ao aparelho, aprendi o básico de seu jeito e tratei do trampo. 

lá pelas tantas comecei a ter as distrações que me insistem. não conseguia parar de pensar em quantas pessoas já usaram aquela máquina, para quê usaram. será que cartas de amor foram respondidas em email emocionado? votos de casamento escritos naqueles mesmos teclados em que eu batucava o pão? 
o que mais há de ter passado por aquele túnel público dos sentimentos e emoções do mundo? brigas, traições, reconciliações, envio de currículo, compra de viagem, trabalho escolar, extrato bancário, combinação de pescaria, pesquisa para alugar casa, notícias para Guadalupe. 
tudo, tudo como o infinito, pode ter passado por ali. e agora eu estava a contribuir para os assuntos desse túnel que acaba guardando toda memória do mundo de um outro jeito. condutor de qualquer coisa.
fiquei encantada e meio desesperada com o número de informações e histórias e gentes que já passaram por ali, bem ali, onde eu também deixava a inscrição de minha vida. e vi homens quase feras a riscar caverna, me senti igual – quando aquele futuro lá longe chegar e pegarem as provas dessa vida, acharão, saberão achar, tudo que deixamos nos computadores das lan houses…

atordoada com tanta imagem, fui fazer perguntas à mocinha. há quanto tempo esse computador está aqui? quantas pessoas por dia o usam? qual é a idade média das pessoas que frequentam a lan? que tipo de acesso fazem? e mais uma meia dúzia de questões que comporiam o meu delírio. a primeira resposta me trouxe a realidade:
– esse computador é novo, chegou semana passada, porque o pessoal gosta muito de jogar, ele é ocupado quase só pra jogar, então a gente sempre troca os PCs. por que, tem algum problema? 

oh mundo! eu sonhando com incrível transferência e registro de assuntos, memórias, projetos, cotidianos… achando que aquela caixa também guardaria as preciosidades do nosso tempo, que era, filme detalhado, um condutor de informações para nossos companheiros de espécie para daqui uns mil anos. 
qual o que? 
é só instantânea do momento. 

voltei ao trabalho, sem distrações ou ilusões. sem ficção. 
a realidade: as lan houses existem, se sustentam e fazem investimentos constantes em suas máquinas… 

quer comentar? não se acanhe.

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