nostalgia na XV

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as vozes da Rua XV me tocam como se pudessem encostar na minha pele e me beliscar ou me agradar.
é um caminho que vai dizendo de algumas lutas, algumas misérias, algumas vidas, alguns sonhos.
esse corredor que rasga o Centro e a alma sempre passeou por mim em estado de absoluta comoção.

saindo da minha casa, é fácil chegar na XV, mas mesmo assim sinto saudade como se já não pudesse mais caminhar meus ouvidos distraídos por ali. sinto saudade como se não fosse mais possível observar todas as gentes da cidade. sinto saudade como se estivesse longe, outro continente, dessa bobeira cotidiana de acreditar no milagre de um lugar que é capaz de ser endereço dentro e fora do Oswaldo Rios, do Plá, do Nene, da Sheila…

entendi que isso, dentro de mim, se chama nostalgia: esse poder e já não mais poder olhar as coisas como antes; essa matéria antecipada de saber, mesmo sem saber, que não farei isso de volta; esse grito triste sem justificativa; essa coisa toda que me diz que sentirei saudade, embora já sinta e nem tenha motivos para isso.

(não encontrei autor da foto. é de um antigo cartão postal da cidade, esta cidade, que há muito não gosta de dizer o nome de seus melhores fotógrafos)

quer comentar? não se acanhe.

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