“o passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente.” – Mário Quintana

De vez em quando meu passado vem me visitar. Chega, bate à porta, nem espera resposta e entra. Não diz a que veio, mas me revira, chacoalha, joga pro alto e espera, que como gata, eu caia em pé. 

Coisas que não lembrava mais, sentimentos que julgava perdidos, peças desse tabuleiro que é minha vida ressurgem. 

Quem é que pode se separar da própria vida? Ninguém! A nebulosa que a distância cria dos fatos, não os apagam. 

O mais engraçado de tudo é que mover uma peça significa rever o tabuleiro inteiro e num repente há uma vida toda para reconhecer por cima do ombro, com o canto dos olhos, dentro do receio das lembranças.

Tenho medo do passado. Medo que mostre que eu já não sou eu mesma ou, ao contrário, que me revele que eu ainda sou a mesma. 

Não há em mim a vontade de voltar a ser criança; a vida adulta me deu liberdade, autonomia, independência e outras ilusões que uso pra me consolar (meu mundo é hoje!)… mas há alguma coisa da época em que vivia sem pensar, medir ou ponderar que gostaria muito de ainda reconhecer em mim. Hoje, tudo tem consequência, tem motivo, tem razão, razão, razão. 

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