oh, Deus, salve o oratório

estava aqui meio de bobeira meio com precisão de fazer umas coisas pré-natal. como havia tempo e alguma disposição, saí. 

 
coisa boa é sair sem destino certo, sem hora para voltar, sem lugar para chegar. a ideia inicial de me envolver com as obrigações de dezembro logo se dissipou e eu já estava entregue à liberdade.
marchei com o único propósito de não ter propósito algum. 
 
lembrei que hoje era último dia de concerto da Camerata Antiqua de Curitiba a interpretar Bach. 
ah! ótima surpresa! 
eu adoro a Capela Santa Maria. sempre que estou lá tenho a impressão que sou turista em terra alheia: olhos cheios com uma maravilha cotidiana. é tão comum e tão integrada à cidade que a gente nem percebe mais. tenho grande simpatia por aquela belezinha. 
a Camerata é grupo pra lá de sério desde 1974. se mantém debaixo do guarda-chuva da Fundação Cultural de Curitiba, o que atualmente significa dizer que sobrevive por milagre. mas está aí, firme e forte.
o maestro Peter van Heyghen rege. ele é diretor artístico e regente da Orquestra Barroca Les Muffatti em Bruxelas. não o conheço, mas as informações são boas. enchanté.
no repertório o Weihnachts Oratorium BWV248, que todo mundo explica por aí como Oratório de Natal. 
 
Bach é encontro com o sublime, transcendência. maioridade de espirito e intelecto. é a prova de onde o homem pode chegar. 
Bach deveria ser a obrigação inadiável de natal. e de todas as outras datas. 
mas eu estava toda chichelenta depois de uma tarde de caminhada nesse calor insano. achei falta de respeito com Bach, com a Camerata, com a Capela e mais ainda com o pobre ouvinte que tivesse o desprazer de sentar ao meu lado. 
esculhambada, tudo bem, mas é preciso estar limpinha, né? 
 
voltei pra casa atrás de água. de beber, de benzer, de banhar. 
e quando tudo já havia atingido normalidade civilizada, fui procurar arquivo com a peça. encontrei. e é a ele que me entrego a partir de agora, corpo e alma.
 

quer comentar? não se acanhe.

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