palavras


Tenho preferência por algumas palavras. A sonoridade em primeiro lugar, depois, bem depois, o significado. As vezes é possível juntá-las, noutras são andantes solitárias, passeantes na minha estreita gramática.
Quando ouço uma que não conheço fico nervosa, tensão de vocabulário. 
Se invento, guardo-a no baú das ridicularias, sei bem que não sou Rosa.
As minhas prediletas ficam ali, na classe dos substantivos. Concretas, abstratas, próprias, comuns…
Também passeio muito com os adjetivos, gosto que se flexionem, que se locutem, e me ajudem a descrever, qualificar, caracterizar, desmoralizar, exagerar…
As minhas ações nem sempre estão em verbos, as vezes se traduzem em outras combinações que exibem melhor o que faço. Quando digo, por exemplo, borboleta solitária ou imensidão de mar ou juízo final ou flores de cerejeira, estou a exercer de um outro jeito a dinâmica de flexão de modo, tempo, pessoa ou número.  
Uma época inventei de pensar etimologicamente, quase enlouqueci. As palavras vinham de algum lugar, tinham história própria e isso me obrigava um respeito diferente por elas, um emprego particular para cada uma. Exercício que perturbava a razão e a fluência. Larguei mão.
Tive a fase de pensar em sinônimos. A eleita usada nunca era a original, sempre uma outra. Perdi faculdade natural da expressão. Ficava com a cabeça preza na diversidade do dicionário e esquecia do objetivo de comunicação.
Pavor de rimas, obsessão por rimas. Quando decretei que trocadilhos eram as combinações mais pavorosas da língua, só sabia fazê-los.
Admiro aqueles que conseguem expressão por desenho, imagem, música. Quanta coisa dita sem palavras! Quanta capacidade!
Sigo tagarelando no teclado, ouvindo na leitura, me esbaldando com os post-its e contabilizando segredos nos grifos de outros.
É a linguagem que me dá a grande euforia de participar dessa classe de mamíferos. 


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