um milhão de discussões em síntese

Nas últimas semanas tenho acompanhado algumas discussões e participado de outras. Os motes são diferentes, mas a temática dá voltas em torno do mesmo assunto: música popular.
O tópico poderia ser mais amplo e tratar da cultura produzida como um todo, a envolver outras praias, mas por conta da minha encarnação passada, acabei mais atenta a esse grupo.
Os amplos debates sobre a entrevista de Mônica Salmaso para O Globo, mostraram certa confusão sobre o que se diz e o que se entende. Vicente Ribeiro, como outros, admirador confesso do que a cantora produz, criticou a oportunidade perdida da cantora tratar da MPB bacana, de qualidade, bem vestida que se faz nos quatro cantos do país, que sempre se fez e, quiçá, sempre se fará, independentemente do mercado. Em vez disso, Mônica preferiu falar do lixo existente num discurso de que, pra quem não conhece nada além dos grandes canais de divulgação, crê que só exista coisa ruim disponível. Perdeu a oportunidade de utilizar bom espaço para citar colegas de caminhada.
Pena! Jornal com tanto alcance é oportunidade rara de ter sua voz a ecoar em muitos lugares. Se ela em vez de afirmar o ruim, promovesse o bom, haveria chances de espalhar o melhor.
Vicente recebeu ecos e apoios e também opiniões divergentes, com as quais soube lidar muito bem e respeitar. Mas também conheceu a tragédia de olhos que não lêem o literal e procuram entrelinhas inexistentes. Foi criticado, ofendido e xingado. Apareceram as palavras inveja, despeito, competição, como se ele, músico arranjador e maestro, disputasse qualquer coisa com Mônica de quem, repito, ele é fã. Lamentável essa parte do debate.
Mas o episódio proporciona a reflexão a respeito de aproveitar toda e qualquer oportunidade para reafirmação do que temos de melhor, para divulgação do que é digno de ser comentado, para a semeadura do que vale e existe e sobrevive na garantia dos próprios entendimentos.
Outro episódio teve como gatilho o produtor Rodrigo Fornos, que divulgou a notícia sobre o cadastro e aceite de um projeto pela Lei Rouanet para shows de Luan Santana. “O Luan Santana infringiu alguma lei? Ele não é artista? Ele não tem direito a usar a Lei Rouanet em um projeto seu?” foram as perguntas de Rodrigo.
Muita gente contra, gente a favor, gente que debate as nuances legal versus moral, gente que se coloca como artista mais “precisado” de recursos públicos.
Será um grande absurdo pensar que os editais públicos acabam por afastar discussão realmente pertinente ao caso?
Uma política pública de cultura séria não tem editais de financiamento de projetos e até de capitalização de artistas como ponto central de seu texto. Política pública de cultura, tem que envolver formação de plateia, educação, informação, conhecimento.
Não me parece bicho de sete cabeças unir, verdadeira e efetivamente, secretarias de educação e cultura de modo que se promova um baú de informações aos estudantes. Se a atual geração está perdida, não dá para concentrar esforços para daqui dez, 15, 20 anos?
O que pensar do nosso futuro se hoje os professores mal sabem quem foi Cartola, Noel, Pixinguinha?
É claro que não é possível interferir simplesmente no que uma pessoa gosta. E atitudes autoritárias podem ter resultado contrário do esperado.
Por isso, é necessário oferecer elementos para despertar e alimentar senso crítico, apurar os sentidos e preparar o olhar para as artes de maneira geral. Quanto mais informação, mais condições de fazer comparações e opções.
Mas como fazer para saltar a muralha que é o mercado e se ergue poderoso oferecendo produtos que ditam as direções por onde a grande maioria da população irá caminhar? Impossível saltar a muralha, é muito fácil desviá-la. A indústria cultural pensa na lógica da massa: produtos descartáveis que terão fácil consumo e absorção hoje e que amanhã serão substituídos por outro com o mesmo perfil. Esse pensamento se estende nos mais diversos campos. O grande antídoto contra esse ciclo disponível para todos o tempo todo, é a informação (a educação, se formos tratar da cura definitiva).
Quem sabe se pararmos de discutir quem é que fica com a grana pública e virarmos a cabeça para as soluções que libertem ouvintes e artistas para as próprias escolhas, comecemos, então, a avançar.
A linha do horizonte é o lugar em que nenhum artista mendigará verba do governo e nenhum consumidor optará como escolha própria o que lhe enfiam guela abaixo.
É hora de começar a caminhar!
 

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