declaração de pessoa física

vontade de trocar a declaração do imposto de renda por palavras de amor, todas aquelas que não precisam de recibo e que têm no olhar a nota de comprovação.

em vez de fazer contas, organizar papeis e conversar com o contador, melhor seria trocar beijos, escrever longos bilhetes de bem querer e sussurrar delícias.

seria bom rever os movimentos do ano por fotografias e cartas, por beijos deixados no espelho ou soprados em brisa.

na contabilidade da declaração de amor, pensar em todas as vezes em que a luz se apagou para que pétalas florescessem úmidas no jardim da cama. ou enumerar todos os compromissos que foram suspensos para que o desejo pudesse fruir e os corpos nadar em rio claro, água cristalina. pessoas físicas.

em vez de imposto, pernas enroscadas; em vez de renda, linho; em vez de calculadora, duas taças vazias.

bem melhor se as datas a serem anotadas fossem as das entradas de cinema, das contas de restaurante, dos bilhetes de passagens, das cartas que soluçam sentimentos.

toda malha fina seria bem vinda, até em noites de frio, mas só para que ao serem declaradas, retivessem na fonte, nas fontes, os momentos de despedidas – única coisa verdadeiramente dedutível, com direito a restituição imediata.

se as quatro letras I,R,P,F fossem substituídas pelas mais saborosas A,M,O,R, o prazer da declaração seria coletivo e não existiria multa de mora ou isentos e o ano-base seria a própria vida, sem sonegação.

 

quer comentar? não se acanhe.

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