do que é vago, incerto e incompreensível

poucas pessoas entendem do que é feita uma escritora. quase ninguém. ninguém. ninguém além de mim.

a frase correta é assim: ninguém imagina o percurso insano que sou obrigada a percorrer para chegar até aqui e batucar esse monte de inutilidades. 

ninguém sabe, por exemplo, que todas as noites acordo com frio. e que isso é necessário para que eu cumprimente a madrugada; para que eu regue algumas memórias e para que eu dê alpiste a esses passarinhos que querem se jogar, que ainda me jogarão, no espaço. 

tem outra coisa. 

os ingênuos – ah!, pobres e limitados ingênuos – não conseguem saber que há sombras e luzes atrás das mãos que escrevem. e que há também, e principalmente, um mistério que nunca jamais poderá ser quebrado. nunca. jamais. 

os ingênuos, bobos e ignorantes, pensam que perguntas são a antecedência das respostas. e perguntam, perguntam, perguntam porque acham, coitados, que toda interrogação leva a um ponto final. 

se eu contasse para um desses tolos investigadores do que sou feita, e sendo ainda mais otimista, se ele ouvisse e entendesse, talvez não aguentasse e clamasse por uma grande tragédia, achando que uma grande tragédia poderia ser maior que sua descoberta. 

como são irritantes os tolos.

ninguém está preparado para saber do que são feitos os versos de uma poeta. 

quer comentar? não se acanhe.

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