gritos.
sempre me foi perturbador ouvir gritos.
entro num estado emocional difícil. minhas mãos denunciam o tremor do corpo, meu coração acelera, meus olhos mareiam, a carótida pulsa violentamente, não consigo falar.
a ansiedade convive com a angústia. fico também imensamente triste. perco o poder de julgamento e vivo como se fosse a única experiência possível.
essa cadeia de alterações dura horas, às vezes mais de 24.
sempre foi assim.
o fato de não poder viver num mundo em que alguém se descontrola e berra me fez buscar maneira de entender os motivos que fazem disparar isso tudo e superá-los ou, na pior das hipóteses, controlá-los.
terapia.
ioga.
peguei um caminho errado, acho.
por algum motivo, que hoje considero meio místico, situações com pessoas descontroladas têm se repetido na minha vida.
percebo que não é algo em mim que as provoca, na grande maioria das vezes os gritos não são para mim, as pessoas não gritam comigo.
mas existe qualquer coisa em mim que cativa e consente esse tipo de situação. é como se eu emanasse uma energia silenciosa, atraente e permissiva: atenção descontrolados, aqui está uma pessoa que ouve gritos.
estou bastante cansada de adultos disfuncionais. exausta dos companheiros de jornada que cresceram em meio a traumas e problemas e não conseguiram entender que precisam de ajuda e de um tiquinho de autoconhecimento.
não quero mais conviver com humores agressivos.
meu diário é recheado de reclamações desse tipo.
fico muito revoltada por as pessoas se sentirem livres para terem comportamentos idiotas comigo ou perto de mim.
não quero mais. mesmo.
também acho que eu posso escolher estar perto de pessoas mais agradáveis. com problemas, claro, mas agradáveis no trato, na generosidade, na partilha. pessoas que conseguem minimamente a cortesia e a amabilidade.
na minha casa, no mesmo chão que eu, apenas aqueles que alcançam o respeito ao Profeta Gentileza.
