Laura and me

acompanho a natureza. todos os dias uma árvore me sorri com seus brotos e tronco que anunciam a nova estação.
ela não quer nada de mim.
não me pede rega nem atenção. palavra ou poda. não pede nada e vai florescendo, ignorando minha insistente presença matinal entupida de conversas.
reconheço que sou o tormento da árvore e ainda assim teimo em lhe dar nome, lhe contar coisas, falar sobre alguns pormenores.
coitada da Laura, a árvore.

testemunha de tudo o que acontece na rua e na casa (nessa, na do lado, na da frente e na outra), Laura permanece muda.
continua, um dia depois do outro, com seu trabalho eterno de preparar o corpo, todo ele, para os presentes da próxima estação: flores, sombra, beleza, caquis.
é comovente presenciar isso.

descobri, porque não me bastou saber-lhe árvore ou Laura ou caquizeira, que os cientistas a batizaram de Diospyros kaki, uma relação/variação/inspiração de alimento de Zeus. foi divertido saber disso, lhe pisquei marota e ela continuou séria, quieta, imutável, mas percebi em algum lugar, de um canto muito fundo de suas raizes, chegar um sorrisinho zombeteiro: os cientistas são engraçados.

todas as manhãs lhe fotografo. digo: faça pose, Laura e tasco-lhe um clique.
por que quero testemunhar com imagens congeladas o que posso viver todos os dias? não sei. às vezes faço isso. acho que é o alimento de quem escreve, o caqui do escriba: tentar gravar o que se vive e pode se perder no tempo – mesmo que não tenha importância.

quer comentar? não se acanhe.

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