ritmos

dormi acompanhada de fantasmas de várias sortes.
acordei cheia de ideias equivocadas, planos insustentáveis de conversas, impulsos fantasiosos.
sabe-se lá quantas coisas me assombraram na madrugada para despencar num amanhecer que tinha promessas catastróficas.

faltava pão.
com todos os medos e adornos me coloquei em marcha.
respirar este sol de outono foi como entupir os pulmões de flores: primeiro parece bom, depois o pólen atrapalha e por fim tudo se dissipa numas cores agradáveis e tranquilas.
no compasso da passada fui colocando as coisas em seus lugares, retomando consciências, substituindo pensamentos.
quando cheguei em casa, já tinha parado de sangrar.

há qualquer coisa que se modifica com os ritmos.
se durante o sono, puxar e soltar o ar desse jeito assim, inconsciente, inconsequente, me lançou num mar de loucuras, as passadas, um pé, outro pé, tum, tum, tum, me levaram para um despertar diferente.

essa sucessão de tempos fortes e fracos, essa alternância entre o sim e o não, essa cadência de coisas que me compõem e me abandonam são meu resumo.
é nesta instabilidade entre distribuir e reagrupar que vivo.
é na imprevisibilidade do que vai e do que fica que diariamente me conserto e me estrago.
é entre o silêncio e o ruído que tenho voz.
e assim não sou uma nem outra. 

quer comentar? não se acanhe.

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