na rodoviária

sentada na rodoviária. uma moça, mais ou menos 40 anos (sim, isso pra mim é moça): você vai ficar sentada aqui muito tempo? não entendi a pergunta, mas respondi que sim.
quando não entendo as coisas direito sempre respondo que sim.
e ela: você pode cuidar das minhas coisas para eu ir ao banheiro?
com minha afirmação, porque não sabia o que responder, largou uma mala de média para grande junto com um travesseiro e foi.

o mundo está tão estranho que fiquei meio desconfiada de uma pessoa que confiou em mim.

imaginei uma bomba e o início das atividades do Isis no Brasil.
depois pensei em uma mala recheada de drogas, os cães farejadores, a polícia e a manchete na BandaB: Jornalista é presa na rodoviária com drogas.
outros enredos com armas, obras de arte, anabolizantes, cigarros paraguaios… se desenvolveram.

é desagradável viver na paranoia. mas é impossível de outro jeito.

a moça voltou, pegou a mala e foi para o seu destino que, me parece, é um lugar muito bom e tranquilo.
ela foi educada para confiar, para entregar a uma desconhecida sua bagagem, para olhar para outro ser humano e sentir fé.
é bonito isso. é assim que tem que ser.

eu? não consigo aprender nada com a experiência e continuo nessa atitude perversa e doentia de disfarçar o medo, tentando continuar com a vida, mas sempre a achar que o perigo pode estar em qualquer lugar.

quer comentar? não se acanhe.

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