não saio de casa

esses dias muito azuis de outono sempre me deixaram triste. desde criança.

tenho imprecisas lembranças: a casa da minha avó, roseira no portão, caixão de lenha, pereira alta. silêncio. não sei mais nada daqueles dias remotos, que apesar de não existirem mais, ainda me perseguem nessa melancolia.

quando sento aqui na sacada e respiro este silêncio de mil anos, me dou conta dessa tristeza que me acompanha desde sempre dissimulada em pequenas piadas cotidianas.

perdida no coletivo dos dias, não sei quem sou. caminhando na solidão primitiva, divido o que posso de sorriso e lágrimas; de pão e vinho; de texto e música.

e nada parece suficiente.

e tudo parece que num estalar de dedos se revelará, mas não. há um rio represado, o sentimento de véspera, a assombração, o constante fio na navalha.

não saio de casa.

quer comentar? não se acanhe.

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