o mínimo

meu trabalho fica a três quilômetros e meio de casa. nos dias pares faço o percurso a pé, nos ímpares também.
piso o chão, pelo menos, sete quilômetros por dia. é o mínimo.
em dez dias, 70 quilômetros.
em 20, 140.
em 30 dias caminho 210 quilômetros.
é o mínimo.
quando chove, vou de ônibus; quando trabalho até tarde, volto de carona. mas meus deslocamentos são quase sempre a pé.

caminho no silêncio e procuro prestar atenção na minha respiração – uma tentativa de meditação.
fracasso.
a paisagem me distrai. outros pedestres também. os carros me irritam. ônibus me comovem.

hoje, porque chovia, porque escuro, porque frio, devaneei em trabalhar de casa. mas não tenho esta opção.
um guarda-chuva, umas botas, uma jaqueta e uma bolsa impermeável para carregar minhas misérias.
é o mínimo.

devagar!, um passo depois do outro!, cuidado a poça!, espere o carro passar para não respingar!, aquele galho está muito baixo!, cacete, podia parar de chover!, ainda não amanheceu e eu nessa lida!
pensei coisas mínimas assim hoje, uma pobreza.

passei por um café em que três homens tomavam cerveja.
7:30 da manhã e seus copos já tinham passado da metade.
três homens tomam cerveja às sete e meia da manhã numa segunda-feira fria e chuvosa.
é o mínimo, pensei.

quer comentar? não se acanhe.

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