o Noviski e eu

teve uma época da minha vida que queria matar o Noviski. ele me enlouquecia. não brigava, não dizia, não usava de sarcasmo ou cinismo comigo, mas me enlouquecia.
o contraditório é que eu não conseguia ficar longe dele. não desfazia o laço, não virava a página, não parava, não retrocedia… eu gostava muito do Noviski para o corte.
quando terminamos nosso trabalho, eu estava exaurida. toda a energia consumida em telefonemas, e-mails e encontros diários. aquela vontade de esganá-lo ia embora no primeiro sorriso que ele me dava e retornava 20 minutos depois, quando novo atraso de trabalho era anunciado…
o tempo passou, reatamos definitivamente. me convidou para escrever num jornal que editava e, orgulhosa, tinha coluna, com minha foto, meu nome e os comentários dele a cada nova edição.
uma vez, Café Curaçao, fez a confissão bem ao seu estilo, meloso desbocado, gosto de você pra caralho, guria.
na última vez que estive com ele, foi num sábado. ele sentado feito um rei na sua mesinha da Gruta da Onça, cerveja e torresminho em volta. abraço, sorriso, emoção. já faz tempo isso. acho que mais de um ano.
a internet nos fez perto, trocávamos conversas on line. eu o via e ele me dizia pelo Facebook. gostava de seu humor, de suas frases, de sua tiração de sarro. gostava da generosidade, da impaciência e de tudo.
por algumas vezes lhe acenei para voltarmos a trabalhar juntos. tinha medo de que ele se recusasse ou que entrássemos na nossa roda viva de loucura. ele sempre aceitou, sempre sorriu para a possibilidade e se declarou torcendo por ela.
agora não há mais Noviski, não tem jeito. e eu sinto uma coisa tão estranha dentro de mim, que não sei explicar, não consigo escrever. um buraco cavado de uma vez só. parece que uma enxada entrou no meu peito e puxou um pedaço de mim para fora. a sua partida é repentina, talvez até, se pensar direito, anunciada, mas muito repentina.
guardo comigo as lembranças dos grandes dias, quando recebia seus desenhos; dos tumultuosos, de quando ele atrasava; das nossas correspondências, primeiro de pedidos de perdão mútuo, depois de perdão também mutuamente concedido e, por último, de declarações de bem querer.
fico feliz por tê-lo conhecido. por ele ter me enlouquecido. por eu ter superado.
muita tristeza com essa partida. eu queria mesmo é ter o Nova aqui, para poder xingá-lo de vez em quando e continuar sempre comungando de todas as coisas que ele, generosamente, espalhava com açúcar e acidez.
boa alma.
obrigada, Noviski, gosto de você pra chuchu!

 

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assim Noviski desenhou Tom Jobim nas aulas de arquitetura.

 

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