o que eu aprendi com os homens

achei bonito este título, embora não seja verdadeiro. o mais correto seria escrever apenas ‘o que aprendi’, mas não teria tanta força diante dos relatos que me propus a escrever em livro.
aceitei a ideia de tratar a longa novela da minha vida assim com as páginas todas abertas porque não há outra alternativa. para poder continuar o caminho, preciso dizer quem sou e tudo o que aconteceu comigo.
há perigo na esquina e a maneira de evitar o medo, é expor o tema.

tenho outros motivos também.

a biografia de cada um é feita dos fatos e circunstâncias vividos e de como eles foram interpretados e tratados por quem os experimentou e por quem os assistiu.
quem assiste a vida alheia não tem muita ideia do que aconteceu de verdade e pode se confundir em interpretações capengas, feitas a partir de relatos errados, mentirosos ou equivocados.
quem viveu fatos cheios de curvas, nuances, embustes, enganos, vira e mexe é visitado pela sensação de culpa e injustiça diante da acepção do mundo.
descortinar é aceitar a verdade, aceitar a verdade é o real aprendizado.

para mim é fundamental contar tudo que vivi. não só pelo clarão que virá com isso, mas também porque sinto a obrigação da partilha.
me coloca em marcha saber que há mulheres amedrontadas, vítimas de um sistema que confunde conceitos como proteção, amor, autoritarismo, assédio, chantagem, amizade, machismo, solidariedade, trabalho, como se fossem expressões correlatas.
me coloca em marcha visitar a história da humanidade e ver que o modelo opressor e oprimida continua se solidificando através dos anos e que não importa o número de berros dados, os canalhas encontram defesa porque quem foi ferida tem vergonha, tem medo. tem medo. tem medo.
me coloca em marcha minha dificuldade em ultrapassar as emboscadas colocadas no caminho e o pensamento de que contar minha própria história pode significar dar as mãos a outras pessoas que têm pedras semelhantes e aprender com elas como carregar, como soltar, como construir – eu não sei sozinha.

ainda tenho alguns pormenores para tratar, enquanto isso, a escrita vai fazendo o seu papel e tirando do meu corpo tudo que aprendi, sobretudo tudo que aprendi com os homens.

 

quer comentar? não se acanhe.

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