gosto de acordar cedo, mas sair de casa, pegar trânsito e conversar com bom humor é outra história. deixar a cama nas primeiras horas tem relação com caminhar sem pressa até a cozinha, tomar café no silêncio dos pensamentos e fazer tudo bem devagar, no ritmo do corpo que ainda se acostuma com a ressurreição matinal. não pensei que um compromisso às oito da matina …
me esforço para ler os jornais de domingo. os assuntos não me interessam, embora mudem minha vida. quando vou ao mercado, quando saio de carro, quando caminho pela cidade, quando tenho medo de tirar o nariz de casa, quando pago a mensalidade da escola da Lívia, quando marco consulta pelo plano de saúde com três meses de antecedência. toda minha vida está condicionada aos fatos …
li uma notícia sobre a Finlândia, meu próximo destino inédito. o jornal dava conta de que a partir de 2017, todos os cidadãos estarão livres do trabalho. todos, sem escolher idade, classe social ou qualquer pormenor, receberão do governo uma quantia mensal, entre 400 e 700 euros, e pronto. a partir disso, trabalharão no que quiserem, quanto quiserem e se quiserem. todos os serviços essenciais …
quieta aqui acompanho os entusiastas do ENEM. me pergunto o que significa, de verdade, a De Beauvoir numa questão de prova. por que há tanta felicidade nisso? poderia ser motivo de aleluias se a questão representasse os debates prévios na escola-nossa-de-cada-dia. mas isso não acontece. também poderia ter utilidade se a partir dos comentários as salas de aula passassem a estudar a sério sua obra. …
tenho andado preocupada com minha memória. nunca fui muito boa com nomes, datas, acontecimentos. frequentemente sou capaz de esquecer coisas como o nome daquela japonesa que foi casada com John Lennon ou do compositor de Aquarela do Brasil, mas isso não é novidade. é traço genético mesmo, algum erro eu acho, sempre fui assim. minhas lembranças se dão a partir de outras ordens. sou um …
numa terça-feira em que o sol queima lá fora, sou janela, quarto de hotel, silêncio, cheiro e comida de hotel. olho lá no horizonte sem prédios e uns azuis se misturam. e acho que eles parecem minhas solidões que se acompanham e se fundem para formar uma massa única que silencia em coro e se multiplica no ar. estranho-me sem sair e correr a cidade …
dia desses tive uma cãibra horrorosa. batata da perna, bem em cima de um machucado da pele, bem onde os deuses não podem ouvir. fiz um escândalo. gritei e chorei, chamei por todos os santos, que dormiam, ou riam, ou olhavam para o outro lado do mundo, não sei bem. minutos depois apareceu meu vizinho, mas a situação já estava controlada e eu fiquei com …
já fazia um bom tempo que não me acontecia coisa parecida. agora pouco fui ao mercado tratar do habitué para o final de semana. as compras são praticamente as mesmas na temporada de sexta-feira, uma coisinha para mais, outra menos a depender do movimento da casa. a pilotar o carrinho passei pelos eternos corredores de todas as semanas. um pouquinho disso, uma porção daquilo, 100 …
tenho as euforias da vida pós-moderna na escrita. não gosto, não é bonito, palatável, ou salutar, mas tenho. umas urgências me invadem e me obrigam a uns textos cheios de açodamento que não permitem o esmero da palavra. anseio, escrevo e publico. não deveria deixar que as inquietudes de morar na web atrapalhassem a construção do meu texto. as ondas da infomaré me conduzem nessa …
tenho algumas dificuldades com a realidade. mantra, já repeti zil vezes. o mundo de verdade me atordoa, me amarra e me amordaça. ou tenta. sou rebelde e enfrento, mas não sem nó na garganta. mas há contradições. agora, por exemplo, enquanto batuco minha sorte, olho pela janela do quartinho e um céu pintado de branco e uns cinzas está aberto aqui na minha frente. a …