pés no chão

Comecei a dar meus primeiros passos quando tinha sete meses. Antes de completar um ano, larguei os apoios e me mandava pra lá e pra cá sozinha, autônoma, dona de minhas perninhas rechonchudas, a comprovar com a testa a dureza dos móveis e das primeiras escolhas.
Algum tempo depois, não sei se pelo exercício precoce ou por alguma má formação ou, ainda, só por modismo, o doutor disse à minha mãe que eu precisava usar botas ortopédicas. Foi lá no Dr Scholl que ela fez a compra, um parzinho tão branco quanto horroroso. Nunca usei. Minha mãe relata que em mínima distração, eu arrancava o instrumento de tortura. Com o tempo fui sofisticando o crime: escondia em baixo da mesa, atrás da cortina, até em cima do escorregador do quintal o par de botas foi parar. Minha mãe desistiu e me comprou Melissa.
Na adolescência, dona de quase 1,80m, o número do meu calçado era 38. Tinha vergonha. Pés muito grandes. Burramente algumas vezes tentei me apertar dentro de um mais socialmente tolerável 36. Bolhas e dores me fizeram desistir. Fiz a opção eterna de All Star 39, além de servir, meus dedos ficavam esparramados, abertos, soltos.
Salto alto? Eu já sou salto alto por natureza, então isso nunca deu certo pra mim. Não consigo sustentar elegância sem ter os pés colados no chão. As vezes em que tentei foram tão vexaminosas que me recuso à narração.
Desde o meu primeiro All Star procuro pelo conforto. Isso acabou se tornando uma espécie de estilo, os seus sapatos são tão confortáveis; que delícia esse seu tênis; onde você comprou essa sandália, parece tão molinha
Na minha trajetória, zanzeio pra lá e pra cá em marcas que me agradam nos quesitos qualidade, conforto e boniteza.
Era louca por uns modelinhos clássicos da Camper, mas a marca enlouqueceu, tratou de se render ao mau gosto reinante e ainda por cima a compra é impraticável no Brasil.

Mas há um tempinho descobri o pote no final do arco-íris. Meus olhos brilham, as mãos tremem, gaguejo, tenho taquicardia. A marca Outer me tira do sério, criança em parque de diversões. Para dificultar meu auto-controle, recebo email com o simpático, sedutor e perigoso recado: 40% off.   
 
 

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