por entre medos e traumas

é pra frente que se anda.
sou de um tempo em que a psicologia, a psicanálise, as terapias ainda não tinham a força e o reconhecimento popular.
os preconceitos e ignorâncias atrapalharam muito o processo de aprendizagem sobre a fundamental importância da saúde mental. também, e ainda pior, uma opção de elitizar este tipo de atendimento.
foi decidido (adivinhe por quem) que tratar da cabeça, das emoções, dos sofrimentos era coisa para rico. e fraco. e frágil.
resultado desse agrupamento de coisas bem presentes do lugar em que nasci e cresci, eu passei pela vida ouvindo a frase pra frente é que se anda.

nada do passado, nem os traumas, nem as dores, nem as alegrias, nem os danos, nem as lições, nem as decepções, nada, nadinha, do ocorrido no passado tinha um valor intrínseco nas ações e pensamentos do presente.
ninguém tinha direito a um trauma. as angústias eram muitas, mas cada um que se virasse sozinho para passar por elas.

tantas e tantas vezes ouvi bobagens como é pra frente que se anda | não pense mais nisso | quem vive de passado é museu | ah!, você não pode ficar triste por causa disso…
esse tipo de coisa sempre foi dita naquele tom de voz que recrimina, que dá a entender que as marcas trazidas no corpo e na mente são uma opção consciente, uma vontade própria.

até hoje existe esse tipo de idiotia perto de mim.
conheço pessoas que acham que se eu decidir que tudo o que me aconteceu na vida não tem importância, ficará tudo bem.
o que interessa para esse tipo de gente é não ter que lidar com nada. é ignorar, não mexer, não falar, não ouvir.
é pra frente que se anda

escrevi todas essas linhas, imensas linhas, demasiadas linhas, só para concluir que mesmo sem querer, mesmo com todo o entendimento, mesmo com mil conversas, ainda existe em mim algumas feridas que não estão bem cicatrizadas e conseguem romper a carne.

ontem, quando tive que lidar com um hacker no meu blog foi assim.
não superei essa coisa de ter que enfrentar o anônimo da internet.
embora, por óbvio, tenha aprendido algumas coisas e tenha clareza sobre outras, nessa noite repeti o mesmo pesadelo que tinha quatro anos atrás.

é pra frente que se anda, sim. mas tantas e tantas vezes já tive que voltar muitos passos para pegar impulso e poder seguir, que não me admira essa visita ao passado.

um hacker será para sempre um hacker.
e a sua potência é ser destrutivo.

quer comentar? não se acanhe.

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