moro numa cidade que tem uma relação cheia de movimento e barulho com esportes automotivos.
o circuito citadino, que na verdade se chama Circuito Internacional de Vila Real, promove uns campeonatos de várias categorias bem no meio da cidade.
na entressafra das principais provas, há uns eventos correlatos que se espalham durante o ano e grifam essa parte da biografia do município.
eu acho essa coisa de carros, combustível, borracha, roncos e outros pormenores muito démodé.
muito, muito, muito.
não consigo interpretar com naturalidade que nos dias de hoje, enquanto tentamos não implodir o planeta, ainda haja uma loucura por gasolina e fluido de freio.
a única coisa que não sai de moda, na minha opinião, é aquele pessoal que tem carros com placas pretas, aqueles muito antigos e inteirinhos. acho simpático que de vez em quando os donos passem flanelinha para que o lustro seja exibido em praça pública. acho meio comovente.
um pouco patético, mas comovente.
há alguns dias aconteceram umas coisas relacionadas a carros velozes e furiosos aqui na cidade.
não sei explicar.
uma coisa tinha a ver com velocidade e habilidade.
outra com potência e exibicionismo.
ambas com fetiche.
acompanhei um desfile de modelos Ferrari, Porsche, Lamborghini, Bugatti e outros que não sei o nome.
primeiro eles chegaram.
depois estacionaram.
e por fim foram embora.
tudo isso deve ter durado umas duas horas. e juntado sabe-se lá quanto de gente. uma pequena multidão que se dissipou em seguida.
tinha DJ, cerveja e sol. mulheres gostosas e homens fortinhos. algumas famílias em que os maridos iam caminhando dois passos a frente. crianças. cachorros, grandes e pequenos. pessoas que saíram da missa e caíram ali por acaso.
assisti tudo com a coragem, a curiosidade e a dose de criatividade que me foi permitida no meu julgamento silencioso.
não gosto de carros.
gosto de gentes.
fosse eu uma ficcionista habilidosa poderia compor alguns personagens com muita facilidade. mas eu só consigo mesmo reportar os fatos bordando uns pequenos comentários – que as vezes corto para não parecer muito antipática.
as fotos são de uma página chamada Circuito Internacional VReal no Instagram.
