o caminho livre das bordas

estou viciada na prática do bordado.
desde que passei a linha na agulha e furei o tecido pela primeira vez, não quero fazer outra coisa.
esta especial ocupação concentra toda a minha força de vontade.

acho espetacular minha capacidade de criação. sei que não tenho técnica, sei que não sei, mas nunca, nunquinha, fico sem ideias sobre o que bordar.
ao contrário. tenho mais de 30 anotações de futuro em meu bloco de notas.

um dia desses pensei que seria interessante me matricular em um curso e aprender de verdade.
me revoltei.
e por acaso bordo de mentira?
quem foi que disse que o padrão perfeito da linha no pano, que as curvas que conseguem copiar com detalhes um desenho, que a repetição minuciosa, que é o certo?
o certo?
quem foi que trouxe para esta atividade tão maravilhosa o conceito de certo e errado, de bonito e feio?

recuso, recuso, recuso estragar tudo o que me faz feliz e livre, criativa e livre, ativa e livre, com o engessamento da técnica.
bordado livre. este é o nome desta atividade. e assim continuará.

enaltecerei a minha ignorância porque ela me autoriza a, todos os dias, descobrir neste pequeno mundo do bastidor a possibilidade concreta e inesgotável da criação.

o meu trunfo é não ter a previsibilidade do padrão, a regularidade das formas.
o meu trunfo é, justamente, poder ser livre neste lugar tão meu, tão longe do certo, do errado, do bonito ou do feio.

eu caminho livre pelas bordas.

quer comentar? não se acanhe.

Pin It on Pinterest