ir a museus não é um ponto forte nas minhas escolhas de passeios.
ao contrário, esse tipo de visita sempre foi feita de forma bastante objetiva, com um propósito quase que prosaico ou reducionista, chegando ao ponto de ter viagens inteiras planejadas a partir da vontade de conhecer determinadas obras ou de já ter ido a Paris 12 vezes e não conhecer o Louvre por dentro.
sou incomodada pelo pensamento museológico e as narrativas de poder que elegem o que tem valor, o que deve ser admirado, o que é certo e acabam por desprezar os povos, as culturas, os processos.
também não gosto da apropriação das histórias.
Arthur Bispo do Rosário passou uma vida bordando. sua arte têxtil o acompanhou e protegeu durante seus 50 anos de manicômio. muito do seu tempo ele dedicou a um manto gigante com frases e nomes de pessoas, era o seu sonho ser enterrado com ele, chegar vestido assim ao paraíso, com o seu bordado tatuado no tecido, o tecido para sempre no seu corpo. quando Bispo do Rosário morreu, sua grande obra fúnebre foi para o museu, para que o mundo pudesse conhecer sua arte e suas possibilidades e maravilhas. e ele seguiu pelado para a eternidade.
Bispo foi renegado durante uma vida inteira e durante uma morte inteira. mas virou documentário, artista, figura importante da museologia.
gosto de saber que há preocupação com a memória e que a humanidade pode se agarrar na cabeleira do passado e se compreender melhor porque nossos traços estão preservados.
é importante. temos obrigações historiográficas. e históricas.
mas me parece um pouco estranho que grades, muros, ideologias e dinheiros, muitos dinheiros, sejam a fronteira do que se guarda, do que se preserva, do que se conta e do que se escolha assumir, consumir e incentivar como arte e também como cultura.
não sou contra os museus. o meu problema é no meio da análise sintática perceber que tenho que entubar as importâncias inventadas pelos sujeitos indeterminados das orações.
gosto mais de andar nas ruas.
