as fatias do cotidiano

nos últimos meses meu tempo está dividido de um jeito semirreligioso.
em nenhum outro momento da vida lembro de limites marcados tão claramente. sou, forma imutável, 45% trabalho, 25% reforma da casa, 20% durmo, 10% me revezo entre ficar doente e me recuperar.

a minha porção trabalho toma boa parte. passo horas e horas e horas em frente ao computador.
não é monótono, só cansativo mesmo.
dentro deste tempo e sem largar das tarefas, faço minhas refeições. café, almoço e jantar, tudo em frente ao computador.
procuro caprichar no cardápio para compensar a falta de paisagem. um dia desses me irritou muitíssimo quando percebi que havia matado uma garrafinha daquelas pequenininhas de Bordeaux com risotinho de aspargo + brie sem perceber. é ruim não apreciar o bom no meio do caos. medo de perder a capacidade…

a reforma da casa é assunto que não desgruda.
nunca fiz isso antes. minha experiência era zero. zero mesmo. e agora aprendo sobre tudo na mesma hora em que tenho que tomar as decisões.
é uma loucura! um quarto do meu dia é dedicado a ler, ver vídeo na internet, procurar quem possa falar comigo e outras providências que me deem segurança para fazer o que estou fazendo.
coloco nesse tempo também, visitas às lojas de materiais de construção, os insights para as soluções, as compras, as escolhas, as decisões – nem sempre é a coisa mais fácil do mundo escolher a cor do piso, por exemplo. e fosse só isso já seria bastante, mas tenho como bônus track, optar por material, textura, preço, prazo de entrega, preparação do piso para recebê-lo, saber se ele será colocado antes ou depois do revestimento da parede, quem fará isso etc, etc, etc.
não reclamo. eu gosto da experiência, dou valor à oportunidade e até me divirto.

20% durmo. e durmo mesmo. se fosse possível, fatiaria os 20% ao longo da programação e daria variados cochilos durante o dia. adoro dormir.
acordo muito cedo e fico quietinha na cama esperando por umas duas horas o horário de levantar. esse tempo também coloco nos 20% do dormir, assim como os minutos do banho e de conversas com a Lívia, aqui preciso abrir parênteses (há três meses estou dormindo no quarto da Lívia, porque apareceu uma aranha no meu quarto e ninguém conseguiu matar e eu não volto para lá enquanto não vir o cadáver. pronto, fecho parênteses). é também nos 20% do sono, que desenho algumas coisas para o futuro, que pesquiso preço de passagem, que sonho umas loucuras, que sinto saudade… e que tenho pensamentos mais livres.

e por fim, tenho esse residual de tempo em que morro de dor de cabeça ou de dor no ciático ou de indisposição ou de angústia paralisante ou qualquer outra porcaria física que me diz que estou a fazer tudo errado. mas continuarei porque tem dado certo.

não é reclamação. é só constatação. sei que a situação é pontual e que esse modo Pitágoras-Descartes de viver vai derreter em menos de um mês – que é, coincidentemente o tempo do fim da reforma, do fim do trabalho e da próxima viagem.

quer comentar? não se acanhe.

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