mudei de casa

mudei de casa. faz uns dez dias.
ainda não me acostumei e vira e mexe ando para o lado errado quando quero ir até à cozinha. chego e abro o armário errado para pegar copo e nunca sei onde está o pratinho para bolo.
fiz bolo. três em uns dez dias. acho que é porque não tenho panelas e às vezes penso em algum tipo de obrigação de produzir alguma coisa.

comprei duas frigideiras, embora não frite coisa alguma. as duas são tortas, foram amassadas no trajeto até a loja, mas quando as vi, tive pena de seus destinos desprezados pelos compradores e as trouxe para casa. ficam penduradas num paneleiro que instalei no teto, mesmo sem ter panelas.

torrei uma grana em plantas porque acho que a casa com folhas fica menos entulhada – embora seja uma coisa a mais na casa. essa leveza da samambaia me conta sobre nossos silêncios e começo a entender os motivos que levam pessoas solitárias comprarem uma samambaia.

ainda não sei direito onde estão minhas roupas. mas não preciso. até agora tenho revezado duas calças, três camisetas e uma jaqueta. em uns dez dias, mais ou menos.
não tenho cortinas. nenhuma. às vezes uma janela dá para uma parede, às vezes para a rua, nada disso me incomoda. sem cortinas respiro aliviada.

uma coisa que aprendi na casa nova é a felicidade de ter uma varanda. todos os dias, faz uns dez mais ou menos, acordo cedo, preparo café, um copo de suco e vou para varanda. não me importa o que acontece na rua ou no prédio em frente ou o azul do céu, gosto de estar do lado de fora e só isso.

me sinto mal porque os amigos ainda não pisaram aqui. é o que me falta. faz uns dez dias mais ou menos, que tenho vontade de convida-los, mas não tenho panelas e eu não sei acionar pizzaria quando chamo os amigos porque acho que eles merecem coisa melhor e não sei direito onde estão as coisas e a mesa chegou ontem e a pia ainda está pela metade e falta espelho no lavabo e não tenho toalha de mesa e deixei para trás as petisqueiras e ainda quero comprar uma outra planta e tenho que limpar direito a casa…
é hora dos amigos virem, são eles que compõem meus pequenos prazeres e me fazem esquecer do que não tem importância.
a casa está aberta.

quer comentar? não se acanhe.

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