breve biografia da autora

me foi solicitado o que diz o título deste post.
já no início da tarefa, a primeira pedra do caminho: sou confusa a respeito das palavras breve, biografia e autora.

breve: adjetivo de dois gêneros que vem do latim. brevis, no sentido de ‘que tem pouco espaço, que tem pequena estatura, que é de pouca duração, conciso, preciso’.
biografia: substantivo feminino, pulou do grego pra cá. bios no sentido de ‘vida’ + graphḗ, no sentido de ‘escrita, convenção, documento, descrição’.
autora: nem existe, o dicionário só gosta de homem. lá, o autor também vem do latim, auctor, no sentido de ‘o que produz, o que gera, faz nascer, fundador, inventor’.
esta deveria ser uma palavra feminina, com certeza!

eu cheguei num lugar em que tenho mais passado que futuro. não é possível contar nada sobre mim de forma breve. qualquer aspecto dura páginas e páginas, não estou a dizer que sejam interessantes ou empolgantes, mas não dá mais para ser breve. este número de fios brancos e de riscos no corpo é o resumo de como sopraram muitos ventos em mim e por isso eu já nem sei mais o que é importante ou secundário.

vou dar um exemplo.
imagine como seria injusto na minha breve biografia de autora escrever ‘publicou MPB para Crianças’ sem contar daquele dia em que a editora entregou caixas e caixas e caixas de livros na minha casa.
é importante falar de como meu coração pulava descontrolado e porque eu não sabia mais chorar de tanta emoção, fui para o caminhão e ajudei os caras da transportadora a fazer a entrega de dez mil títulos na minha sala.
depois, com aquele infinito de volumes, achei que era certo tirar o pó da casa. e varrer. e passar um pano. e cera.
aí lembrei que não tinha trigo e eu precisava fazer um bolo e fui ao mercado. no caminho passei no posto. e no banco. e na floricultura.
e fiz uma barbaridade de coisas para sobreviver àquela felicidade que talvez me fulminasse se eu conhecesse meu primeiro livro na velocidade da minha ansiedade.
depois, com uma solidão de mil anos no colo, sentei no chão e rasguei a primeira caixa.
chorei. chorei confusa. chorei um choro compulsivo por aquele destino que inventei para mim. e até hoje não sei explicar. e isso sempre se repete.

na minha breve biografia de autora é preciso falar de entusiasmo e ruína, satisfação e abismo, certeza e despenhadeiro, sorte e maldição.

quer comentar? não se acanhe.

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