coração, camadas

quando coloquei a jaqueta preta, pensei em meu coração.

o inverno despencou sobre mim.

embaixo da jaqueta, uma blusa com a cor dos tijolos de uma velha chaminé de uma fábrica qualquer que parou nos anos 1960.
embaixo, uma blusa que comprei num lugar que vendia artigos para quem faz escalada.
embaixo, a malha de mangas compridas que uso desde sempre.
embaixo, o primeiro contato com o corpo tem alcinhas e versa apenas sobre o conforto têxtil.

só depois disso tudo, a pele e depois dela, a caixa torácica, o esterno, pares de costelas, vértebras, discos intervertebrais, articulações costovertebrais, veias, artérias, nervos.
e só depois, muita coisa depois, o coração.

meu coração tem não sei quantas camadas de proteção. matérias diversas se sobrepõem para resguarda-lo.
meu coração faz parte de um sistema muito embrulhado, revestido, escondido, e ainda assim fere-se com muita facilidade.
fere-se.
ele se fere.
apesar de tudo, é possível penetrar meu coração com muita facilidade.

quer comentar? não se acanhe.

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