Sobre Curitiba Arquivo
há muitos anos a Fran, super amiga da minha irmã, se mudou. era casa nova, vida nova, novos horizontes. estávamos empolgadas com o momento, uma felicidade que corria solta. ninguém tinha muita grana. para felicitar a casa nova, compor o enxoval e dedicar parte significativa minha naquele momento que era tão glorioso e inspirador, dei de presente um jogo de taças que havia sido da …
não tenho religião. a fé se limita às possibilidades de realização. mas dou ouvidos a alguns sinais, instintos. afinal, nem só de inteligência vive o ser humano. se estou a andar por uma rua e uma voz delicada me sopra ao ouvido para mudar de via, nem discuto, não quero saber dos motivos, obedeço e pronto. hoje saí cedo de casa, depois de uma caminhada …
te conto em prece meus olhos são seus não se perca, não se apresse teus beijos são meus quando seguro sua mão não me perco nem me afogo e porque você pisa nesse chão eu me solto e te renovo não convém acabar com o presente se o futuro demora talvez seja teste urgente do dia que ainda não sabe da aurora
sou curitibana e gosto de falar do tempo. não sinto problema nessa conversa repetitiva. gosto. é um dos trunfos de quem nasce por aqui. muito calor, muito frio, muita chuva, a geada, e aquele vento, o aeroporto fechado, o céu azul, o formato das nuvens, a imprecisão do Instituto. na sala da minha vó tinha uma casinha daquelas em que um homem e uma mulher …
a chuva caiu de umas nuvens muito brancas que amanheceram no dia de hoje. quando acordei senti os pingos a molhar a rua, me apareceram na cor das cortinas, os ouvi no barulho dos pneus dos carros. gosto quando a segunda-feira começa assim. não sei explicar, mas é espécie de namoro com a cama e por mais que eu tenha que largá-la na primeira hora, …
acordei com o fim do mundo, fiquei tão assustada com o furdunço que achei que a única providência era me enfiar no roupão e sair. ainda tive tempo de pensar que não seria nada bom continuar com um pé de meia amarelo e outro azul e fui procurar par gêmeo. no meio do caminho, sonada, entendi: depois de mais de dez dias parada, a obra …
logo eu que sou Antonina até debaixo d’água tive imenso dia em Morretes. coisas do trabalho, coisas do prazer. me mandei pelas curvas da Graciosa a procurar as belezas que me causam atrás da espessa cortina branca que, véu de algodão, cobria todas as camadas de verde. tenho cá minhas desconfianças que foi por conta dessa serração que a Etel não teve ânimo para a …
nem queria dizer nada hoje. mas o texto tem dessas coisas, é preciso preocupação com a função. e isso não é bom. quiçá fosse permitido um texto só pela beleza, só para guardar as palavras de minha preferência. coisa de venustidade sem estar de mãos dadas com o sentido. uma intimidade de pronúncias e dos desenhos que elas fazem no papel ou na tela ou …
“…E o operário disse: Não! E o operário fez-se forte Na sua resolução…” (O Operário em Construção, Vinícius de Moraes, 1959) ia fazer uma reclamação pública. a pensar sobre a situação, mudei de ideia. me encolho e me presto apenas à narrativa. cada um tem que saber do seu lugar. difícil, mas sei do meu. recebi três convites. novos trabalhos. por partes. o primeiro …
tenho vontade de pedir perdão. de estender os olhos até onde meus pecados alcançaram e curvar-me pelos erros. não quero penitência, só o perdão mesmo. puro, simples, humílimo. e este perdão deveria caminhar até o futuro onde certamente minhas imperfeições continuarão a dançar. sei de alguns erros desde seus nascimentos. mas os insisto. deixo-os que pulem, que se transformem em ação e que façam os …