Sobre Curitiba Arquivo
gosto das noites de domingo. há um silêncio diferente, um ventinho, um espírito de recomeço. gosto de recomeço, nova chance, nova oportunidade. fosse eu mais espalhafatosa e dada a comemorações, brindaria o réveillon uma vez por semana. aqui do quartinho, espio a semana que confunde a direção, não diz se está a ir ou vir. faz ziguezague nos pensamentos. o domingo é a valsa dos …
tantas semanas sem ir à feira. última vez, o Natal nem era passado. pois bem, vestida com as armas e as roupas de Jorge me mandei para tratar da vida ao ar livre. a rotina é basicamente a mesma. percorro o L em passos lentos, ouvidos atentos, olhar curioso. tudo me interessa. e acho que justamente por isso, me distraio com facilidade. o passeio de …
adoro piquenique. nunca faço. me dá preguiça. muita mão de obra: reunir coisas, preparar comidinhas, encontrar fórmula fácil para deixar a bebida gelada, ter toalha xadrez. escolher um lugar também não é tarefa leve. não pode ter formigas, mosquitos, abelhas ou qualquer coisa que voe, ande ou se arraste. nem gente barulhenta, xereta, que goste de conversar por perto. só mesmo curitibanos da década de …
finalmente aconteceu de eu ter um leque. ando, pra cima e pra baixo, a me abanar. não com a elegância das europeias do século XVII, mas esbaforida pelo calorão das estações, do ano e da idade. é divertido ter um leque. nesse momento da vida, não há acontecimento em que ele não seja figurino obrigatório. o lance de tentar afastar as quenturas internas e externas …
Comecei a dar meus primeiros passos quando tinha sete meses. Antes de completar um ano, larguei os apoios e me mandava pra lá e pra cá sozinha, autônoma, dona de minhas perninhas rechonchudas, a comprovar com a testa a dureza dos móveis e das primeiras escolhas. Algum tempo depois, não sei se pelo exercício precoce ou por alguma má formação ou, ainda, só por modismo, …
Penso na frase adaptada de John Donne: “A morte de cada homem diminui-me, pois faço parte da humanidade; eis porque nunca me pergunto por quem dobram os sinos: é por mim”. E ao recorrer ao poeta, um vazio estranho me toma. Fico triste pela humanidade, por esse vendaval de ocorrências difíceis de pensar, quiçá de superar. Me vejo adolescente, a achar que tenho que mudar …
nessa semana teve inauguração de exposição no MON. Jaime Lerner e seus 50 anos de arquitetura, de criações. entre tantos feitos (que melhoraram a vida de gente que nem sabe de sua mão em suas rotinas), lançamento de livro. trabalhei no livro. com felicidade e cuidado fui ouvinte e leitora de Lerner em histórias infinitas, suas viagens sentimentais, confissões de amor e respeito …
depois de longa temporada sem tirar o nariz de casa, saí. ainda bem! o Paiol estava apinhado de gente. escadas, cadeiras atrás do palco, gargarejo, última fila, tudo tomado. já tinha visto o espetáculo Noël algumas primaveras atrás, acho que em 2006 na Reitoria. lembro bem que gostei, me diverti, ri. não cantei porque cantar só em casa, ninguém tem nada com isso – cometo …
pode ser que eu esteja enganada, até é bem provável se considerar minha crônica burrice a respeito de tudo que anda, voa ou se arrasta, mas tenho a impressão, desde sábado à noite, que um vizinho me espia. o lance começou quando eu lia na poltrona da sala. era noite e por conta de um ventinho perturbador levantei para fechar a janela. como de costume …
gosto dos prazeres da pele. maquino maneiras de perceber júbilo nas coisas mais simples: sapato confortável, textura de roupa, temperatura ambiente, móveis satisfatórios. é importante esse reconhecimento em tempo integral, ele me revela o agradável mesmo quando o resto não diz lá grande coisa. não sei se é por conta de tez tão sensível às mais discretas variações ou se seria igual, ainda que tivesse …