o pó das coisas

precisava limpar a casa. arejar, lavar, arrastar, juntar, jogar.
trocar uma coisa por outra.
trocar sujeira por limpeza.

quantas vezes já fiz isso, meu deus?!
quantas e quantas vezes…
meus objetivos são sempre os mesmos: não espirrar, não me coçar, viver num ambiente agradável e perfumado. se for bonitinho, ainda melhor.

mas há algo a ser respeitado no pó das coisas.
as histórias se empilham ali, dançam pelo ar, satisfazem os ácaros e repousam felizes nos objetos.
o pó das coisas é testemunha silenciosa, para sempre silenciosa, de tudo, visível e invisível, que a casa guarda.
o pó das coisas sabe de lágrimas noturnas, de gargalhadas, de Reconvexo na hora de arrumar o guarda-roupa, de palavras não ditas e benditas.
o pó das coisas é salvação e ruína. é micromoleticamente tudo o que se viveu, o que já foi e ainda está.

fosse eu mais inclinada à arqueologia manteria os rastros da minha vida em cima dos móveis, cuidaria dos vestígios como um hortelão atende suas acelgas.
mas não sou.


Poeira tomando assento
Rajada de vento
Som de assombração

Djavan

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