a besta-fera

ontem tive uma crise de mau humor. mas em vez de deixar que as violências pulassem de mim, como é comum em casos assim, as troquei por palavras de ironia, umas frases dúbias meio agitadas e umas risadas fora de hora.
almocei nesse estado de espírito, tentando me controlar, achando que se conseguisse domar a vontade de xingar o mundo inteiro e gritar palavrões, conseguiria também sufocar a besta que subia à tona.

com o tempo, emergindo e ocupando o lugar da fera, sua versão contrária, que não é um ser pacato, quase dócil, racional e controlado.
o avesso desse animal feroz que me habita e me ferve o rosto, é a apatia e a derrota. um estado depressivo que procura desesperadamente pela tristeza das coisas e consegue achá-la num estalar de dedos, no azul do outono e no prazer do banho quente.

me sentei à beira do abismo, naquele limite de pedir socorro, de incomodar o mundo para chorar as angústias e contar sobre minhas infelicidades.
mas, sei, um gesto assim precisa ser bem guardado, estar dentro dos bolsos do pijama para o momento crucial, para quando não é mais possível aguentar nada.
procurei uma foto do melhor ângulo da minha tristeza e fiquei quieta.

quer comentar? não se acanhe.

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