fermé

um dia a porta fecha ninguém entra nada sai a tranca bate pesada sete mil chaves nenhuma brecha. um dia o trinco cai com força suspende o mundo cerra histórias chute na trave. um dia o cadeado bate eterno ergue muros estanca veias  veda janelas no porão, as memórias.  um dia a fechadura não gira nenhuma volta nada entra  ninguém sai arrebentam-se correias a vida …

mau humor

é óbvio, tenho mau humor. não preciso provar nada, mas escrevo nesse estado alterado só para dar mais credibilidade às palavras.bílis no comando. muitas coisas alteram meu humor. muitas. várias. a maioria. disfarço para poder viver em sociedade. fui educada para ser gentil e agradável “porque ninguém tem nada com isso se você tem um problema, Adriana”. e se eu tiver vários, muda alguma coisa?  trivialidades me deixam de …

pizza

ontem à noite comi pizza. nada pode ter de extraordinário na informação. principalmente se considerar o fato de que ela vem, de mesa em mesa, desde o Egito, daquela época em que seus habitantes eram chamados de egípcios, o que significa muito tempo de calendário. há também a versão de que os gregos, também de um tempo que acumula todas as antiguidades, foram os inaugurais do …

à beira do caminho

penso nessas casinhas de beira de estrada. pouca coisa me enternece desse jeito. seus cuspes de fumaça azul; os latidos daquele cachorro preto; o portãozinho entreaberto, madeira gasta de chuva e sol, ninguém passa por ali, mas ele existe como guarda e resistência.  numa dessas casinhas, eu sempre penso, alguém cuida das galinhas e alguém cuida das couves. e à noite, depois da canja, há …

noite

agarrar a porção da noite que está marcada como destino de cada um, que é cais, saída e chegada,  espalhar cada uma das estrelas nos cantos do espírito  nas encostas da alma nas esquinas dos pensamentos carregar as fatias das noites  mais escuras como se fossem brilhantes e pensar que brilhantes  também são pedras  que sempre estiveram crispando, cintilando, piscando, antes de se anunciarem.  saber …

boneca

quando eu era menina tinha uma bonecaela choravapara ela parar de chorareu fingia que cuidavaque amavaque agradava e ela fingia que parava.cresci achando que quando eu chorassee alguém fingisse amore me agradasse e simulasse cuidadoso certo era eu fingir que parava de chorarmesmo que por dentro todo o peito sem pilhas e sem cordasse contorcesse em dores e berros. quando eu era menina tinha uma bonecaela choravapara ela parar de chorareu brigavafalava uns …

balanço de fim de ano

atravessei 2018 como quem passa por uma ponte muito longa sem perceber porque não olhou para a construção, mas ficou fixada no que corria por baixo ou no horizonte ou nos pássaros que voavam em volta.  fiquei presa à paisagem. fato que não merece nenhum tipo de juízo.  coisas grandiosas aconteceram comigo durante este ano.  apesar de terem sido tão imponentes não quer dizer que …

lazúli

prestar atenção nas perguntas e responder apenas o que querem saber transformar excessos em silêncios e encontrar maneira de viver muda. não contar lembranças nem histórias apenas uma e se for solicitada. não exagerar nos adjetivos não usar adjetivos pensar que uma pedra é uma pedra mesmo se azul ou cinza uma pedra azul ou cinza só terá algum sentido dentro da relevância da cor. …

mudei de casa

mudei de casa. faz uns dez dias. ainda não me acostumei e vira e mexe ando para o lado errado quando quero ir até à cozinha. chego e abro o armário errado para pegar copo e nunca sei onde está o pratinho para bolo. fiz bolo. três em uns dez dias. acho que é porque não tenho panelas e às vezes penso em algum tipo …

briga

apalpar todas as brigas para entender de qual matéria cada uma é feita esmiúça-las, escarafuncha-las, detalha-las chegar à exaustão de todas as emoções e ainda assim não compreende-las tentar livrar-se da culpa carregar toda culpa nas costas justificar as ações para poder continuar refugiar-se dentro do medo tremer, temer, meter tudo num canto do mundo e continuar vivendo como se nada tivesse acontecido.

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