estou a sonhar com os dias de Antonina. aqueles que passam calmos e duram muito, se alongam em minutos e giram preguiçosos no relógio. saudade do ar sufocante que de vez em quando é cortado por uma brisa leve que vem não sei de onde e some no sopapo do calorão que abafa, inibe, mata de tédio. tenho vontade de ficar naquela velha varanda a …
não me lembro quando fui apresentada ao Google. sei bem como me espantei. qualquer coisa?, qualquer coisa mesmo?. naquela época, eu não sabia direito do que se tratava; os conceitos de sites e de buscador eram um pouco confusos pra mim. passei a trata-lo como um enorme índice que me conduzia a páginas confiáveis, testadas e aprovadas. minha primeira reação ao seu canto de sereia foi …
gosto do que faço. até quando não gosto, gosto. sentar na solidão do quartinho e batucar texto é uma tarefa cheia de pequenos prazeres. ainda que o assunto não seja lá dos melhores, há um certo contentamento em organizar as palavras, buscar combinações, cavar referências, tentar dar suavidade a alguma paúra de mercado, política ou social e mesmo assim mandar o recado. mas eu gosto …
na última porta do armário naquele lugar que não vejo não alcanço e não sei uma antiga lembrança. preciso das pontas dos pés dos braços estendidos do pescoço contorcido. preciso dos olhos atentos da alma lavada do olho comprido. revejo fitas, cartas, papeis descubro notas, correntes, anéis recupero fotografias, desenhos, pincéis. uma caixa cheia de vida entupida de pequenas mortes um baú de sonhos esquecidos …
eu aprendi algumas coisas. me despedi de uns sonhos. renovei esperanças em novos pensamentos. fiquei incrivelmente grisalha. vivi Antonina, Buenos Aires, Florianópolis, Londres, Paranaguá, Zurique, São Paulo, Paris e, principalmente, os caminhos que me levaram a esses lugares. parei de tomar remédios. tive o carro roubado. colecionei novas marcas no rosto. aprendi a lidar com algumas contradições. cortei definitivamente umas pessoas da minha vida. publiquei …
não poderia ter acontecido em outro lugar, em outro dia, com outras companhias. não dava para ser diferente. até eu, que nego o destino e acho que cavo dia após dia minhas escolhas, tenho que dar a mão à palmatória e me redimir desse pensamento tão cartesiano. fui vítima do bom destino em toda sua glória e resplendor. lançar livro não é coisa fácil pra …
vai funcionar assim: não paga nada para entrar, também não paga nada para beber um dos incríveis coquetéis da casa e nadinha para ouvir boa música. ninguém é obrigado a comprar livro e nem ficar a noite toda. liberdade é o outro nome do Dizzy na próxima segunda-feira, dia de lançamento do “Salve o compositor popular”. o livro tá bonito, tem arte do Mirandinha, caricaturas …
acho que me comporto bem. não estou azucrinando ninguém, não faço drama, não sou insistente. importante: não criei grupo para ficar monologando sobre. tá certo, mandei um ou outro Whatsapp a modo de desabafar e comunicar meus passos atuais. mas fora isso, estou carregando muda esse drama do lançamento do livro. mas minha pele pipoca, o estômago dói, tenho pesadelos. essa situação é complexa para …
estava bem frio. mais de meio-dia e o trubisco do telefone marcava três graus negativos. mas o iPhone não conhece os elementos, não sabe como a situação pode piorar muito longe da cidade. eu sentia um frio russo. não estava triste. ao contrário, passear pelos jardins de Versailles numa segunda-feira no meio do dia, na solidão das passadas, com sol azul e céu brilhante me …
tenho frustrações. a mais pública, e talvez a mais confessável por ser menos feia, tem a ver com a música. nunca aprendi a tocar nada. sempre quis. mas faltou a disciplina necessária, dobrada, para uma sem talento como eu. todas as minhas tentativas tropeçaram, caíram e foram soterradas num buraco. estou para sempre ali na zerésima escala. e quando tento fugir, num único passo corro …