o vento que vem do leste o leste que nasce em mim rodopio de tempestade que acaba sem ter fim nas manhãs me faço em sol toco músicas que me acreditam sopro nuvens, lanço raios e me dispo no que liberta conheço as tardes de saliva que me jogam de novo ao mar puxam e me largam na promessa de voltar
antigamente, quando a vida ainda seguia a marcha das ilusões, tinha dois medos: ficar sozinha e não escrever. o primeiro temor, nasceu quando nasci. de tanto provar da solidão e não encontrar sentido em fazer laços indissolúveis, a voz de fora passou a proclamar que vida desacompanhada era mesmo o estado natural de todo mundo, todo mundo do meu mundo. afirmei que a caminhada depende …
não me importa que a chuva caia lá fora e que eu precise de capa, galochas e cachecol para enfrentar o mundo. o calendário avisa que num instantinho será verão. a notícia me anima. não posso mais ficar espichada em esteira lagarteando sob o sol. passei da idade e das condições de deixar as pernas à mostra. em poucos lugares vivo sem ar condicionado. …
Antigamente tinha letra bonita. Caligrafia calma, desenhada, pintada na vontade de estar perto do papel. Até minha assinatura era mais caprichada. Os diários dos anos que ficaram nos cadernos são documentos que denunciam uma vontade de fazer registro com decência, mesmo quando as notas não eram tão agradáveis. A máquina de escrever não foi uma sensação pra mim. Fiz o curso obrigatório, aprendi sequência das …
há coisas que me atrapalham a vida. não a vida inteirinha, a vida de todo o dia, a vida corriqueira. mas a vida restrita, a vida de dentro, a vida da madrugada. uma delas, e acho que a pior, é o ciúme. já fiz tratado comigo mesma, já pensei um milhão de vezes, já conversei com amigos. nada tira de mim a baixeza de sentimento tão pobre. me …
Me disseram que eu tenho que usar artigos. Não posso mais, simplesmente, “buscar Maria”, tenho que “buscar a Maria”; não dá para “jantar com Carla”, preciso “jantar com a Carla”. Também não posso mais sair de casa sem protetor solar. Nem para ir ao mercado ou à casa da minha mãe… e olhe que tudo fica em Curitiba, que nem sol tem. …
a primavera chegou! eu sinto, vejo, ouço. parece que dentro de mim mil flores desabrocham quando olho para o jacarandá e ele me sorri roxinho. é tempo de tirar os vestidos do armário, de ensaiar volta pela praia, de começar a despir o corpo. é tempo das caminhadas de fim de tarde ou de começo de dia. é tempo de sorrisos. gosto de ganhar os …
Não se mate (Carlos Drummond de Andrade) “Carlos, sossegue, o amor é isso que você está vendo: hoje beija, amanhã não beija, depois de amanhã é domingo e segunda-feira ninguém sabe o que será ” Já não fazia há meses e fiz por muito tempo, hoje saí cedinho de casa para tomar café da manhã em hotel. Louca por um tipo específico de guloseima, escolhi …
ai que difícil quando a sexta-feira chega… quando é sexta e ainda é preciso que seja quinta, que se insista a quinta, que se alongue a quinta, que a quinta continue para que se tranque lá dentro tudo que pertence a ela… deveria ser proibido rodar a folhinha sem que as pendengas tivessem sido resolvidas, acabadas, rompidas. à Cesar o que é de César. e …
revirei cidade, essa e outras, atrás de um carrinho de feira. meu objetivo era claro e simples: não forçar braços, coluna e pernas com as compras feitas sem presença de ajudante ou carro. depois de muitas voltas, cheguei ao modelo que, por suposição, observação e leitura, poderia me auxiliar em tão corriqueira tarefa. tipo dobrável, com rodinhas, que sem posição de uso fica do tamanho …