perdas e danos

levantei a tampa do computador determinada a escrever um conto.
tinha como propósito desenvolver história de uma pessoa que coleciona pequenos fracassos diários a partir de distrações inexplicáveis.
autoficção.

pensei em uma historinha bem humorada que relatasse duas ou três idiotias, mas que conservasse atrás da imagem débil algum tipo de pensamento interessante, agudo, crítico e até, quem sabe, satírico a respeito do entorno.

era para ser uma coisinha boba, um treino de escrita. texto mais para conservar a ideia e ser desenvolvido em outro momento do que para ser lido no presente.

sou um balde que transborda vexames.
não consigo explicar, menos ainda entender, o número imenso de equívocos que coleciono.
com essa matéria-prima abundante achei que seria relativamente simples tratar do caso.
faço questão de repetir: achei que seria relativamente simples tratar do caso.
simples tratar do caso.
tratar do caso.
caso.
caso clínico.
descobri que é no divã e não no texto o lugar dessas trapalhadas excessivas.

resultado. não há conto, há a conta da psicanalista, há a preocupação com esse estado catastrófico e, sobretudo, há potes e potes abarrotados de desastres naturais e, talvez, domáveis e permanentes.

quer comentar? não se acanhe.

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