quando a gratidão é maior que tudo

quem escreve sabe, a solidão é quase uma exigência para o ofício. mesmo numa redação apinhada de gente ou num voo lotado ou na mesa de um café, em algum momento é preciso se enclausurar em si mesmo, desprezar vozes e movimentos e recorrer ao baú particular. concentração.

durante muitas horas trabalho sozinha. fico aqui, enfurnada em mim mesma, com uma musiquinha e o olhar pela estreita fenda que abre as cores do mundo numa janelinha de um palmo de largura.

não preciso mais. será?

sim, preciso mais. se escrevo é porque quero ser lida. caso esta presunção não me acompanhasse, não publicaria e deixaria linhas e linhas enfileiradas nestes caderninhos que estão aqui ao meu lado, abarrotados de mim.

quando um texto percorre o mundo, há a consciência de que ele não pertence mais a quem o criou, é de quem lê. o leitor, com suas verdades e experiências, é o dono das palavras traçadas com privacidades extremas. e isso é a grande coisa da escrita, suar por palavras e depois larga-las no mundo como um pássaro sem memória ou história.

beleza.

tive o grande privilégio de conhecer outras vozes a me traduzir e me mostrar o que eu mesma disse num determinado momento da minha vida e como isso chegou até elas.
todo mundo deveria ter esta regalia!
a experiência contorna a sanidade e abre as portas para o novo, não se instala em lugar algum, porque cada nova incursão tem significado diferente. as palavras boiam num mar muito vasto e a correnteza leva de um lado pro outro.

fiquei muito emocionada. e tenho um imenso apetite de gratidão. não sei direito o que fazer porque não consigo escrever como sinto. essa paralização me acaba. e eu fico aqui, exausta de tanta emoção e com um sorriso tatuado no rosto. queria mesmo era poder entregar a cada um todo o contentamento que senti.

tenho sorte, muita sorte.

e sinto gratidão, muita gratidão.

 

quer comentar? não se acanhe.

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