roleta

acordei pontualmente às 5:52 e fiz o que faço nos primeiros minutos de todos os dias. nada. fiquei uns dez minutos quieta e imóvel dentro de uns pensamentos que de tão inúteis nem lembro. 

dos prazeres cotidianos, o café da manhã ganha disparado. ele me diz que a vida é boa e que vale a pena – vale as penas que virão durante o dia.

ao entrar no quarto, equilibrando xícara e prato, o café transbordou e molhou o chão. 
abri a torneira do banheiro com muita rapidez, o jato bateu na pia e respingou na minha roupa. 
andei cinquenta metros de subida para voltar, pegar o guarda-chuva e subir tudo de novo. 
a ventania trouxe um galho que bateu na minha cabeça e ficou preso nos meus cabelos. 
pisei num pedaço de vidro que fincou em meu tênis e só não furou o solado e cravou no meu pé porque ao ouvir o barulho, diminuí a força da pisada.  

tudo isso antes das sete e meia da manhã. 
pensei, que dia, meu deus, que dia! 

fiz um exercício polianisticamente de otimismo e decretei que hoje é meu dia de sorte. 

caiu um pouco de café no chão do quarto, não foi muito, um gole, talvez. consegui limpar com papel-toalha.
a água que pulou da pia molhou meu roupão, que seca rápido e que não precisaria ser usado nas próximas horas.
ainda bem que lembrei do guarda-chuva enquanto ainda estava bem perto de casa. 
o galho, que poderia ter acertado meus olhos, ficou preso na minha juba, o que me fez prender o cabelo, colocar o capuz da jaqueta e seguir pela ventania um pouco mais protegida.
fosse ontem, que eu estava com as botinhas que de tão velhas têm a sola quase transparente, teria realmente sofrido um revés com um caco de vidro cravado no meu pé. 

tudo isso antes das sete e meia da manhã.
agradeci por ter iniciado esta quinta-feira de forma tão positiva. 
foi mesmo uma pena confirmar nas horas seguintes algumas misérias a que tenho que me submeter. estas não estragam só os dias, estragam a vida. 
ainda procuro olhá-las com algum humor.

quer comentar? não se acanhe.

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