força centrípeta

de novo estou na lavanderia.
de novo vejo a meia de bolas azuis, a calça jeans e a camiseta verde sacudirem.
o casaco cinza, o pijama também rodopiam.
estão na máquina as toalhas e um pequeno lenço escuro que quando passa pelo visor parece que é uma velha cortina que tinha na casa da minha avó.
não trouxe os lençóis essa semana.

ocupo a lavanderia apenas para secar a roupa. nos dias de inverno os métodos são estes: lavo tudo na máquina toda nova e automática que tem na cave da casa onde moro, seco tudo na lavanderia. muitas vezes, como hoje, ao trazer a roupa para secar, acabo toda molhada de chuva. para que as roupas sequem, eu me encharco…

gosto de olhar a promiscuidade de roupas de um lado pro outro. beijam-se e separam-se; agarram-se e repelem-se; misturam-se e perdem-se.
um dia desses tentei construir personagens com as roupas, monta-los inteiros. um exercício criativo em que reprovei gloriosamente. das minhas roupas e das do Sérgio que via sacudindo, só consegui formar eu e o Sérgio como figuras…
para as outras máquinas não olhei, tive vergonha. um pudor com as intimidades alheias.

sempre sinto qualquer coisa de poética aqui.
e, uma vez aqui, sempre questiono minha vida e minhas escolhas, me parece que este é um lugar apropriado para isso.

de novo estou na lavanderia.
de novo vejo a calcinha preta, a ceroula e camisola girarem.
giram as peças, o planeta, a roda-gigante.
giram os piões, o pneu, a porta do hotel.
giram os ponteiros, o liquidificador, gira a engrenagem.

quer comentar? não se acanhe.

Pin It on Pinterest