Arquivo Mensal: julho 2015

diante do Bonfim

gosto da onda baiana. me alegra o ritmo da fala, o olhar de malícia, os gestos que dizem mais. sobretudo, me causa muito entusiasmo esse viver que parte da experiência do prazer. o contrário de onde eu vim, em que o prazer é consequência de muita penitência prévia. a experiência de estar bem acima de tudo, de não negar o júbilo nunca, não é tarefa …

os santos todos

tempinho atrás ouvi Gustavo Proença declamar que “o mar é tão grande que dá pra deixar toda dor”. não duvido. olho para essa imensidão e não consigo imaginar o que não possa ser benzido, afogado, renovado aqui. nessa salmoura azul lanço rede para ver se puxo corações que escorrem perdão e borbulham amor. sufoco meus pés em espuma branca para que respirem os cochichos de …

de volta ao passado

conhece coisa mais chata que comprar roupa? detesto. tenho preguiça e mau humor. normalmente compro pela internet. faço esforços gigantescos para evitar papo de loja, provador, caixa e o constrangimento de ser levada até a porta por vendedor a segurar minha sacola. não gosto desse contato humano. e acho que os serviços são ruins, deficitários, problemáticos. vendedor que faz salário a partir de vendas é …

pectina

um estudo científico, não lembro nome nem origem, diz que um casal que se olha por quatro minutos ininterruptos tem mais chance de se apaixonar. as estações do ano são quatro. as fases da lua também. no universo, quatro elementos. a sorte se estampa num trevinho de quatro folhas. quatro anos são essenciais para que um bissexto, maior, com mais possibilidades, se apresente. o dia estelar, tempo …

resistência

querido sono, este bilhete é pra você. confesso: meu corpo é seu. sinto-o a caminhar em volta de mim, me contornar os ombros, acariciar meus braços, beijar meus olhos. sei que está por aqui. escuto sua voz de sereia. percebo, um a um, todos os seus truques: você me faz olhar para cama e reconhecer, à distância, a textura felpuda e macia do cobertorzinho azul; …

conversa na praça

não tenho religião. a fé se limita às possibilidades de realização. mas dou ouvidos a alguns sinais, instintos. afinal, nem só de inteligência vive o ser humano. se estou a andar por uma rua e uma voz delicada me sopra ao ouvido para mudar de via, nem discuto, não quero saber dos motivos, obedeço e pronto. hoje saí cedo de casa, depois de uma caminhada …

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