anacoreta

um dia desses me falaram, de forma indireta, que eu não sabia escrever ou qualquer coisa parecida dentro dessa mensagem.
foi uma agressão proposital e eu fiquei triste, muito triste mesmo.
a intenção de me humilhar e diminuir caiu muito forte e pesada. mais a intenção do que a mensagem. saber ou não saber escrever é um entendimento subjetivo e tem gente que gosta do que faço, gente que não gosta, gente que despreza… mas querer deliberadamente me ferir é muito agressivo.

quando uma pessoa muito próxima leu Virgínia Woolf pela primeira vez, numa chamada de vídeo me contou empolgada sobre a maravilha: ‘agora posso dizer que me apaixonei por uma escritora de verdade’. olhei pra tela com um sorriso sem graça sobre a parte que me cabia e com alguma satisfação por Woolf.
foi uma pancada.
as diversas formas de interpretar a frase me fizeram sofrer.

depois, as invertidas acadêmicas. o meu jeito de escrever versus o que é exigido na produção científica.
cada nova correção me fazia crescer para um lado e diminuir para outro.
não foi fácil.

contabilizei também o preconceito linguístico.
em Portugal, fui enquadrada em limites muito duros e algumas vezes me senti analfabeta. noutras ignorante. e em tantas desinteressante.

parei de escrever por um tempo.
nem diário.
nem bilhete.
nada.
tanto faz para quase todos. um pesadelo para mim.

depois retomei. porque a escrita é minha forma de estar no mundo. e dane-se o resto.
artigo e dissertação e projeto e poesia e crônica e relato e carta e diário e bordado.
voltei à forma que sei de registrar a vida, pensar sobre ela…

hoje compreendo o que achei que sabia no passado.
a escrita é uma prática solitária.
não!
a escrita é uma solidão.
sobrevive por ela mesma, sozinha, sem leitor, sem comentário, sem nada.
sobrevive na aproximação da leitura ou no vazio do desdém.
sobrevive na publicação do livro, na reunião literária, na mensagem de incentivo. e no inverso de tudo isso.
a escrita é unicaule.

quer comentar? não se acanhe.

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