dois lados da mesma moeda

encontrei a solidão. e ela era sem cor e dura e forte. estendeu-me a mão, seca e áspera. convidou-me para dançar e sua música era suave e seus passos tranquilos e ela me fez flutuar…

nos entendemos bem, formamos par: dupla inseparável, proteção mútua. eu sabia: ela não deixaria que a vida me distraísse, que o mundo girasse, que o corpo tivesse calafrios. e eu a respeitaria, protegeria, a guardaria a chaves, cadeados, correntes, redes, lençóis.

comunhão.

a solidão me deu presentes: livros, tempo, músicas, silêncios, calmaria, quietude.

um dia, sem aviso nem convite, o amor chegou. fez confusão, abriu todas as portas, destrancou os medos, libertou as vontades e rompeu nosso acordo. tratou de nos separar.

o amor era colorido e tinha linhas diferentes, sorrisos, animação, sol, estrelas, concentração. água fresca. o amor me seduziu porque me fazia sorrir, porque me deixava cantar e porque me desvendava para o outro, o próximo, o mais próximo.

o amor permitia a divisão e a vontade. a liberdade e a prisão. o sim, o sim, o sim.

confiei no amor e em suas promessas. traí a solidão e me entreguei a esse novo parceiro.

descobri que o amor também é onipresente, acompanha e preenche todos os instantes, os espaços. o amor invade a alma. E gosta do perigo: corda bamba, beira de precipício, olhos nos olhos, corpo em chamas, passarinho solto.

o amor não deixa espaço vazio. E quando a solidão tenta se aproximar, ela já não tem boa música e incomoda e atrapalha e perturba e enlouquece.

a solidão fica ali, escondidinha, a espiar.

o amor não consegue esperar.

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