no 16º andar

acho que o mundo seria melhor se todo ser humano vivente pudesse dar uma passadinha na casa da Iara numa quarta-feira à tarde.

ontem tive a sorte.

acompanhe.

a primeira grande coisa, é que a casa da Iara parece uma galeria de arte. as belezuras das paredes estão ali, para serem vistas, apreciadas, tocadas, compradas; a luz perfeita, os móveis em harmonia. parece mas não é. e ainda bem, porque isso garante a intimidade do café da tarde, com variedades mil que denunciam nos primeiros trinta segundos uma glutona como eu. perdições incontornáveis às quatro da tarde de um dia qualquer.

há o movimento das paredes. quando você pensa que já viu beleza bastante, troca de sala e encontra a Leila Pugnaloni, por exemplo. volta e o que não havia agora tem lugar de honra: foto que é a tradução de uns 35 significados diferentes, que aqui resumo como o talento da Lina Faria.

o sofá é tão gostoso que nele é possível uma piscadela de cochilo enquanto se olha as maravilhas do D’Orsay. e, esparramada ali, tem presença felina: Ron Ron, que alisa e acaricia pés e espírito. mais, a apresentação de crianças e poesias, pensamentos e maravilhas, possibilidades e esperanças – não posso explicar melhor isso, porque minha pena não alcança: Jardim de Poesias.

tá, já é coisa suficiente para uma tarde. e quando você está convencida de que não pode melhorar, a porta se abre, e entra leve, feliz, disposta, a Doris. a festa continua. assuntos se multiplicam e ela promove a bagunça geral: traz quadros e mais quadros, ilustrações mil, risadas, conversas. a academia de ginástica da esquina faz trilha sonora e o que toca? Chiquinha Gonzaga! na esquina da casa da Iara e da Doris, a academia de ginástica toca Chiquinha Gonzaga! saca a loucura dessa frase? é óbvio que os encantamentos daquele apartamento contaminam o redor, viajam em ondas e onde há uma porta aberta, entram e se instalam. na esquina da casa da Iara e da Doris, a academia de ginástica toca Chiquinha Gonzaga! – não me canso de repetir isso.

tudo bem, sei que parece exagero, ficção, delírio, que é muita coisa para um lugar, mas acredite, o relato é literal.

e na difícil, sofrida, adiada hora de ir embora, as duas, Iara e Doris, sabedoras do quanto seria fácil acreditar que tudo não passou de um delírio, largam as provas táteis, para lembranças e saudades futuras: quadros, um pedaço do tesouro da família, uma relíquia da década de 1950.

carregada de sacola e sonhos, chego ao carro com a novidade: em dia de Iara, até a mocinha do EstaR perdoa: nenhum aviso no para-brisa.

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quer comentar? não se acanhe.

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