garrafas ao mar – ou sopro em dente de leão

antigamente eu jogava garrafas ao mar. um bilhetinho dentro, uma indicação de tempo e local.
era tudo.
não foram muitas. também não foram poucas.
devo ter poluído o Atlântico com isso umas 15 vezes, nuns 20 anos. sempre com a esperança de que alguém a retirasse do mar e guardasse como eu guardei uma caixinha de latão que encontrei na areia da Ilha do Mel. misterioso tesouro.

parei de fazer isso.
apesar de toda a cena ter uma beleza melancólica, silenciosa e cinzenta, como um inverno numa praia do hemisfério norte, parei.
sinto falta.

hoje não posso mais jogar uma garrafa ao mar.
vim, tanta areia andei.
já não sou a mesma pessoa.
não sei explicar o motivo de ter deixado pelo caminho esta ação infantil e bonita. também não sei qual foi meu último bilhete. ele caiu no mar de Santa Catarina e afundou aquele hábito esporádico para sempre.

agora tenho esse blog, que é uma versão do passado.
um sopro num dente de leão.
uma versão com identidade. com possibilidade de diálogo. com continuidade. com interação quando um escafandrista me diz oi.
lanço meus acenos nesse infomar pensando que a geografia não existe.



quer comentar? não se acanhe.

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